Velostigmat Wide Angle Ser. III f9.5 | Wollensak

Wallensak Velostigmat Wide Angle Ser. III  f9.5   8 x 10   6 ¼ - 159 mm

– Velostigmat Wide Angle Ser. III  f9.5   8 x 10   6 ¼ – 159 mm| entre 1921 e 1945

Esta é uma lente grande angular de 159 mm de distância focal (6 ¼ polegadas), capaz de cobrir uma foto de aproximadamente 20 x 25 cm (8 x 10 polegadas). Calculando o círculo de imagem para tal formato encontramos 32 cm. Calculando o ângulo de visão para este círculo de imagem e essa distância focal encontramos um ângulo de exatos 90º. A abertura máxima de f/9.5, embora possa parecer um pouco modesta se comparada a lentes mais comuns, para tal ângulo de visão é algo muito impressionante. A pupila de entrada precisa ter ~17 mm para dar f/9.5 com uma distância focal de 159 mm. Essas características são muito arrojadas mesmo se comparadas a uma lente dos dias de hoje. No entanto, o desenho dessa Velostigmat é de 1902.

Ela foi introduzida pela Rochester Lens Company com o nome de  Royal Anastigmat Wide Angle. Essa empresa foi adquirida pela Wollensak que ficou com a propriedade intelectual de todos os seus desenhos. O catálogo de 1906/7 (cuja bela capa art nouveau é reproduzida acima) ainda listava a lente com seu nome original Royal Anastigmat, que foi logo após alterado para Velostigmat.

As características postas em relevo são:

  1. O vasto ângulo de visão de 90º
  2. O campo plano da imagem (flat field), muito difícil de se obter em lentes angulares pois normalmente a imagem se focaria melhor sobre uma superfície esférica (equidistante do centro óptico) e não plana como é a superfície do filme
  3. A sua abertura de f/9.5 com a qual o fotógrafo poderia realizar instantaneous exposures, capazes de fixar mesmo objetos em movimento.

As lentes angulares, desde o início da fotografia, sempre tiveram seu campo de aplicação mais significativo para fotografia de natureza ou de arquitetura. Eram conhecidas como lentes de paisagens e no início consistiam apenas em um dubleto acromatizado com abertura por volta de f/30. Eram também conhecidas como lentes francesas pois as primeiras lentes utilizadas por Niépce e Daguerre eram desse tipo. Talvez os mais famosos fabricantes tenham sido Charles Chevalier, Lerebours et Secretan, pois de fato equiparam as primeiras câmeras, mas logo em seguida vieram muitos outros como Hermagis,  Jamin, Gasc et Charconet, todos predominantemente franceses. Muitos fabricantes em outros países também adotaram o desenho, mas o nome já estava consolidado como lente francesa.

O problema com os dubletos acromáticos, lentes francesas ou ainda lentes simples, como tambem são chamadas, é que além das aberturas muito pequenas eles sofriam de aberrações que curvavam a linha reta dos monumentos quando estas estavam mais para as bordas da imagem. Esse problema é chamado distorção curvilínea ou aberração radial. Quando o diafragma está na frente da lente ela tende a trazer mais para perto do centro pontos afastados do centro da imagem (fig.22 abaixo). Neste caso um quadrado assumirá a forma de um barril, daí o nome mais  conhecido em inglês barrel distortion. Quando o diafragma está atrás da lente os pontos da periferia da imagem são afastados ainda mais do seu centro e a distorção lembra uma figura que remete a uma almofada (fig. 23). O nome em inglês é pincushion distortion. Quando, em vez de uma lente simples, duas lentes são arranjadas simetricamente em relação ao diafragma, uma compensa o efeito da outra e o que temos é a imagem correta (fig. 24). Considera-se a Rapid Rectilienar de Dallmeyer, lançada em 1866 a lente inaugural dessa ideia que foi extremamente frutífera na história das lentes fotográficas. O termo rectilinear faz alusão justamente à correção da aberração radial. As ilustrações abaixo foram tiradas do livro The Optics of Photography and Photographic Lenses, de J.Trail Taylor.

Ainda hoje podemos observar esse tipo de distorção em algumas lentes contemporâneas. Softwares de edição, como o Photoshop, já tem até filtros calibrados para corrigi-las digitalmente. Com certeza os lens designers, nestes casos, preferiram usar seus recursos para corrigir outros problemas que consideraram mais urgentes, como luminosidade ou custos, e deixaram um pouco de pincushion ou barrel distortion para o fotógrafo.

Por essa razão a maioria das lentes grande angulares do século XIX são simétricas. Mesmo já no século XX quando outros desenhos assimétricos foram desenvolvidos, muitas lentes ainda mantiveram a solução pela simples simetria.  A Velostigmat Wide Angle é ainda uma aplicação desse princípio. São oito elementos em quatro grupos, ou seja, dois dubletos colados de cada lado do diafragma.

Seu desenho corresponde ao que no diagrama abaixo está marcado como Raptar Wide Angle f/9.5, pois esse é o nome que substituiu Velostigmat após as Segunda Grande Guerra Mundial quando essas lentes passaram a receber um tratamento anti-reflexo (coating) inventado pela Zeiss alemã.

Apenas como comparação, o desenho abaixo é de uma lente grande angular contemporânea, a Schneider Super-Angulon, que é oferecida em variações de distâncias focais, cobre ângulos de 90º a 105º e aberturas até f/5.6. O ângulo de visão é similar ao da Velostigmat, a luminosidade é 4 vezes maior. Mas essas são lentes muito grandes, pesadas e caras. Note que são 8 elementos em quatro grupos também, porém, não há mais completa simetria.

Fonte Wikipedia – autor Tamasflex

As lentes da Wollensak são difíceis de datar e até os nomes não dizem muita coisa. Velostigmat nomeou várias ópticas diferentes e Raptar, como vemos acima, foi pelo mesmo caminho. Mesmo a regra Velostigmat não tem coating e Raptar tem, não é totalmente válida pois já foram localizadas Velostigmats com coating, provavelmente de um período de transição. Consta que o nome Raptar foi escolhido por meio de um concurso lançado na revista Popular Photography em 1945. A julgar pelo acabamento e estado desse exemplar, eu creio que seja dos períodos mais recentes. Porém, não há registro quanto a números de série e sua lógica com relação a anos de produção.

Acima, uma página do catálogo de 1935 no qual uma Velostigmant, sem obturador (in barrel, como se diz no inglês), é apresentada e as mesmas características realçadas: velocidade, ângulo de 90º e definição sobre todo o campo.

O problema com as Velostigmats e com todas angulares mais antigas é a falta de tratamento anti-reflexo. O design em si é muito bom. O anti-reflexo torna-se crítico em lentes angulares pois a luz incide muito obliquamente quando o ângulo de visão é importante e justamente nesses casos a fração da luz que se reflete em vez de penetrar ou sair do vidro é considerável. Gera um volume grande de raios de luz que não irão contribuir para formar a imagem e em vez disso reduzem seu contraste por se espalharem de forma desordenada sobre a superfície do filme. Isso é muito mais crítico em angulares do que em lentes longas nas quais temos uma incidência preponderantemente mais frontal, como é o caso de uma lente para retratos, por exemplo.

Para minimizar o efeito é preciso se evitar contrastes muito acentuados, inclusão de fontes de luz como o sol, reflexos da luz solar, contra-luzes e casos semelhantes. Essa luz mais excessiva irá certamente se espalhar também pelas áreas de sombra. Mas aquilo que tecnicamente é um defeito pode também ser utilizado a favor de uma concepção estética específica. Esse espalhamento de luz em torno de áreas brilhantes é conhecido como flare e pode proporcionar uma certa materialidade para a luz que acaba sendo interessante.

Parque do Trianon – São Paulo – Câmera Royal Ruby da Thornton Pickard

Acima temos um scan de uma cópia por contato de um negativo 18 x 24 cm realizada em papel Ilford Fibra Mate. Ela ilustra um caso de lens flare quando a luz do céu é filtrada pela copa das árvores e invade a sombra das folhas. Alguns detalhes:

Uma Raptar com tratamento anti-reflexo é sem dúvida algo mais desejável que uma Velostigmat antiga ou a ainda mais antiga Royal Anastigmat. Lentes mais recentes, como as Super Angulon, têm uma perfomance muito melhor em todos os sentidos.Mas considerando-se que é uma lente 8 x 10″ com 90º de ângulo de visão, que cabe realmente na palma da mão, que sua luminosidade f/9.5 não é enorme mas já é suficiente, limite talvez, para se enquadrar a foto olhando no despolido, ela é uma lente muito interessante de se ter e usar.

Wollensak Velostigmat Wide Angle Ser. III  f9.5   8 x 10   6 ¼ - 159 mm

Fontes: Muitas das informações que coloquei neste artigo vieram de uma colocação que fiz no Large Format Photography Forum justamente para comentar e discutir o lens flare da Velostigmat. Agradeço aqui a todos que colaboraram. Este é o link para a conversa.

Uma excelente fonte sobre lentes e obturadores da Wollensak pode ser encontrada nest link. Como parte do compendium há até mesmo uma tabela com números de série. Em alguns casos é possível datar com precisão. Mas para esta lente infelizmente eu não cheguei a uma conclusão. Coloquei entre 1921 e 1945 pois foi este o período de produção do obturador Betax nº3. Também levando em conta que dessa data em diante a Velostigmat foi substituída por sua versão com coating e renomeada para Raptar.

As imagens dos catálogos da Wollensak vieram do site Camera Eccentric, uma excelente fonte para pesquisa em equipamentos antigos de fotografia.

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