Objectif pour portrait Nº5 – Petzval | Fleury Hermagis

Objectif pour portrait Nº5 - Petzval design - Fleury-Hermagis

– 310 mm | f/3,9 | ~1909 –

Esta é uma Petzval bem tardia, se pensarmos que a sua concepção e primeira fórmula data de 1840, quando o matemático Joseph Petzval a desenhou e a firma Voigtländer fabricou em Viena o primeiro exemplar (veja a história completa neste artigo). O desenvolvimento de lentes fotográficas se ramificou, desde o princípio, por caminhos com diferentes objetivos. O mais óbvio de todos foi buscar uma lente que pudesse dar foco sobre toda a chapa fotográfica com luminosidade suficiente para registrar essa imagem em um brevíssimo instante. Essa seria uma lente “científica” por assim dizer, pois registraria com precisão e sem distorções tudo que estivesse à sua frente. O suporte sensível ideal, para essa lente ideal, seria uma superfície sem grãos ou texturas que reproduziria, um a um, os mesmos valores relativos de luminosidade dos objetos fotografados. Faria assim a cópia perfeita do mundo físico.

Um outro caminho, também muito importante, foi o das imagens que eram chamadas “artísticas”. Nesse caso a lente deixaria uma “assinatura”, não daria uma imagem como a de um espelho, perfeita, mas permitiria alguma distorção, aberrações e alguma perda de foco. Essas características faziam delas o meio de expressão para fotógrafos, sobretudo retratistas, que realizavam suas imagens pensando em alguma visão estética. Emprestavam algumas convenções tradicionais nas artes visuais e deixavam seus clientes felizes com retratos que lembravam alguma escola de pintura.

Foi esse tipo de demanda que permitiu ao desenho de Petzval permanecer no catálogo dos principais fabricantes por tantas décadas e, a rigor, continua um tipo de lente muito utilizável nos dias de hoje. Não foi “ultrapassado” pois foi logo colocado em uma via fora da corrida das lente técnicas.

Objectif pour portrait Nº5 - Petzval design - Fleury-Hermagis

Esta Objectif pour Portrait Nº5 é citada como Série I e continuou pelo início do século XX o antigo desenho de Petzval. Depois veio uma Série II com objetivas mais luminosas (entre f/2,7 e f/3,5). A Série III para retratos já foi a famosa Eidoscope, uma lente classificada como soft-focus. Mas segundo o Vade Mecum, esta segue um desenho tipo RR (rapide rectilineaire) formada então por dois dubletos simétricos, já não era uma Petzval.

Fonte: Josef Maria Eder, Ausführliches Handbuch der Photographie, 1893 – a seta indica a direção de propagação da luz.

Existiram variações sobre o desenho de 1840, mas essa Hermagis Objectif pour Portrait Nº5 segue bem o desenho clássico da primeira Petzval (acima), pelo menos em termos da sequência dos elementos e curvaturas das superfícies.

A página de catálogo acima reproduzida dá as especificações para a Nº5: 31 cm para distância focal e trás também o tamanho da imagem usando um formato padrão que foi muito popular no final do século XIX e início do XX. Chamava-se carte-album. Porém, não é tão fácil se ter certeza hoje do que isso significa em centímetros. Henry Baden Pritchard escreveu um livro muito instrutivo sobre estúdios fotográficos na Europa, no qual ele diz que o carte-album foi levado para a Europa continental e América, apenas com um nome diferente para o formato cabinet, criado em Londres pela Window e Grove estúdio em Baker Street. Para seguir essa pista, teríamos que admitir o carte-album como 108 por 165 mm (4 1/4 por 6 1/2 polegadas). Uma outra conta é dada por Charles Fabre, em seu Traité Encyclopédique de 1890, cita a carte-album como 10 x 14 cm. Trata disso em um capítulo sobre como cortar as folhas de papel fotográfico de modo a otimizar o aproveitamento para formatos padrão. Como Hermagis e Fabre eram ambos franceses, eu vou adotar os 10 x 14 cm. Não é tão importante do ponto de vista do uso da lente mas é interessante, especialmente para uma lente tipo Petzval, saber o que o fabricante considerava sua área útil. Muitos fotógrafos encantados com o Bokeh, utilizam essas lentes para muito além da recomendação dos fabricantes. Adotando essa medida, ela resulta em um círculo de imagem de 17,20 cm. Usando a sua distância focal encontra-se em um ângulo de visão de 31º. Razoável para uma lente tipo Petzval que normalmente tem de 15 a 20º de área bem nítida segundo Eder em seu  Ausführliches Handbuch der Photographie de 1893. O entorno irá apresentar o seu blur tão característico. O círculo de iluminação medido no vidro despolido com a lente sem diafragma é de ~26 cm. Mas a imagem deteriora-se enormemente na sua periferia.

Objectif pour portrait Nº5 - Petzval design - Fleury-Hermagis

A lente é muito grande e pesada se pensarmos no tamanho da imagem que produz. O elemento frontal tem 80 mm, a rosca da flange 98 mm e o comprimento total é 192 mm . Não é possível montá-la em uma Linhof Tecknica 13×18 cm e dificilmente em câmeras antigas do tipo viagem, dobráveis, de madeira e fole. Tenho uma Thornton Pickard Royal Ruby 18×24 cm e apesar do formato bem maior que o da lente, esta simplesmente não cabe na frente da câmera É portanto uma lente realmente de estúdio, para aquelas câmeras com foles quadrados e uma generosa frente para acomodar um lens board de pelo menos 14×14 cm como esse da foto acima.

Essas lentes tipo Petzval, especialmente as grandes, são em geral fáceis de desmontar e normalmente trazem inscrições a lápis na borda das lentes. Essas informações são úteis para reforçar a autenticidade da lente e também, no caso da Hermagis, é onde eles anotavam o ano de fabricação.

Objectif pour portrait Nº5 - Petzval design - Fleury-Hermagis

Dubleto frontal 1

 

Dubleto frontal 2

 

Dubleto frontal 3

O 09 no final indica 1909. Essa era uma prática observada também em lentes Hermagis do século XIX.

 

O 803 deve ser algum tipo de serialização do conjunto, pois veja que aparece nos dois casos. O número que aparece no centro, possivelmente a distância focal do elemento em questão.

Muitas das informações que utilizei neste texto vieram de um post que fiz no Large Format Photography Forum pedindo ajuda com informações. Gostaria de agradecer aqui aos membros que colaboraram. Para ver o post e a conversa, acesse este link.

O retrato abaixo foi feito em um negativo bem maior do que o formato para o qual a lente foi desenhada. Como ela é muito grande para câmeras de meia ou quarto de chapa, precisei montá-la em uma câmera de estúdio 18×24 cm. O suporte foi um dry-plate caseiro e é por isso que a pele apresentou muitas manchinhas que normalmente não são aparentes. Por essa razão o negativo foi retocado usando-se a técnica tradicional em dry plates que é o retoque a lápis. Para ver o antes e o depois e conhecer esta técnica, acesse o artigo Retoque de negativos em preto e branco. A exposição foi de 4 segundos e a lente estava toda aberta. O scan foi feito a partir de uma cópia por contato em Fomatone MG Classic, um papel com forte textura e tons quentes.

 

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