Zeiss Protar Convertible Anastigmat | Ross London

zeiss protar - frente

–  300 mm | f:7 | 1900 –

Esta foi uma das mais avançadas lentes de seu tempo, bem na virada do século XX, e mesmo comparada com padrões de hoje ela possui excelente qualidade de imagem em termos de contraste, nitidez e distorção.

Um pequena explicação para o problema que este desenho veio a resolver: Uma lente fotográfica é um dispositivo que captura luz vinda de objetos a projeta em uma superfície sensível. Cada ponto no objeto que é visível emite/reflete reflete luz que se propaga no espaço. A lente capta parte dessa luz, que é divergente a partir de cada ponto no objeto e força-a a convergir em pontos sobre o filme ou sensor digital. Depois, olhando para a imagem impressa em papel ou tela, nós reconhecemos a cena porque pontos claros e escuros com cores diferentes estarão em posições relativas e valores tonais que correspondem ao que os nossos olhos veriam se estivessem colocados na posição da lente no momento em que a foto foi tomada. Os nossos olhos também são lentes com material sensível por trás: a retina.

Estou dizendo isso pois as “anastigmáticas” tem tudo a ver com “pontos”. Stigma significa “ponto” em grego. Astigmatismo é uma aberração óptica que impede uma lente de formar pontos no plano da imagem a partir de pontos no objeto. Desde as lentes do tipo Acromáticas ou as tipo Petzval, criadas em 1840, foram algumas décadas até que designers de lentes tenham descoberto o caminho para corrigiram esta imperfeição.

zeiss protar - astigmatismo

Esta ilustração, tomada da Britânica on-line, mostra a condição indesejada. A luz vinda do ponto P converge, depois de atravessar a lente, de um modo peculiar: a parte marcada em azul converge para um ponto mais próximo da lente e forma a primary image (imagem primária), enquanto que a parte transversal a ele, em laranja, (muito importante: isso não tem nada a ver com a cor da luz, é apenas uma indicação para facilitar a leitura do desenho) irá convergir em um ponto mais distante formando a secondary image (imagem secundária) de P. Com isso não há uma distância definida, lente/imagem, onde seria correto se colocar o filme e ter toda a luz vinda de P, passando pela lente e indo para um único ponto no plano da imagem/filme. Onde quer que o este seja colocado será sempre uma solução parcial com algum grau de perda de nitidez. A melhor escolha, quando ajustamos o foco da lente variando sua distância ao filme, é chamada de circle of least confusion (círculo de menor confusão) que não é na verdade um ponto mas um pequeno círculo que será a imagem de P.

zeiss protar - tres quartos

A primeira lente a ter o astigmatismo corrigido foi a Concentric da Ross (Inglaterra), desenhada em 1888/92 por Schroeder, mas ela tinha uma abertura muito pequena, em torno de f20. Mas já em 1890, Paul Rudolph da Zeiss teve sucesso em produzindo anastigmáticas com aberturas de f7.2 e f4.5 em 1891.

zeiss protar - diagrama

Diagram from Lens Vade Mecum

A lente mostrada neste post segue esse desenho. Ela foi lançada pela Zeiss em 1895 e pertence à família das anastigmáticas. É uma 4+4 simétrica e cobre 80º. Cada metade é corrigida contra astigmatismo e pode ser usada separadamente colocada atrás da iris. Em combinação a distância focal é 300 mm (12 polegadas) e a abertura é f7 podendo fotografar com uma chapa/filme de 20 x 25 cm cm permitindo ainda algum movimento para correção de perspectiva se a câmera tiver esse recurso. Sozinhas, as células tem 19 1/4 polegadas (~480 mm) ou 23 1/2 polegadas (~587) e a abertura cai para f12.5. Há um anel com estas aberturas e escalas que pode ser colocado na posição a fim de ter a escala correta conforme a configuração (foto abaixo)

zeiss protar - focais

Muitas empresas foram licenciadas pela Zeiss para produzir este desenho:
Ross, London
Bausch and Lomb, Rochester, New York
Krauss, Paris – France
Fritch, Vienna – Austria
Koristcka, Milan – Italy
Suter, Basle – Switzerland

 

É também conhecida como Protar, nome adotado pela Zeiss quando não puderam garantir exclusividade sobre “anastigmat”, que era um nome genérico da óptica e não poderia ser uma marca de uma única empresa. A construção 4+4 era chamada Protar VII, quando as células eram vendidas separadamente e Protar VIIa quando vendidas em conjunto, como é o caso da lente aqui mostrada. Ross gravou Zeiss Convertible Anastigmat, também uma descrição comum para esse tipo de construção.

zeiss protar - convertible

Este é um par original de filtros amarelos que vieram junto com a lente. Há também um anel que deve ser usado para permitir instalar o filtro quando apenas um grupo de lentes está montado.

zeiss protar - filtros

Se você se interessa pela história das lentes então deveria com certeza adquirir, caso ainda não o tenha, o pdf de um livro chamado A lens Collector Vade Mecum. Custa apenas UDS 14,99 e é uma riquíssima fonte de informações com explicações, diagramas, fotos e números de série dos principais fabricantes e modelos. Você pode adquiri-lo neste link. Outra bibliografia básica e mais técnica e estruturada é o livro A History of the Photographic Lens  de Rudolf Kingslake. Você o encontra nesta página da Amazon.

A foto abaixo foi realizada com a lente completa (as duas células), toda aberta (f7) e com apenas a luz de uma janela comum. O filme era ASA 100 no formato 18 x 24 cm e foi copiado por contato sobre papel de fibra e gelatina.

 

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