Gruppen Antiplanet | Steinheil

Hugo Adolph Steinheil, lançou as suas Aplanats em 1866. Foi uma revolução nas ópticas fotográficas. A ideia de base desses desenhos era a simetria, dois dubletos idênticos com o diafragma no centro.

Já as Antiplanet foram um outra história, foram uma alternativa às Aplanat e uma ousadia em termos de projeto óptico. A simetria das Aplanats eliminava as distorções, mas a qualidade da imagem para objetos distantes sofria de aberrações e perdia definição. Adolph Steinheil decidiu então quebrar a simetria e partiu para desenvolver um desenho com quatro elementos e dois grupos diferentes entre si. Em 1879 lançou a Gruppen Aplanat com f/6.2 com ângulo de visão de 56º e ainda usando o conceito de dubletos com vidros flint nos dois elementos.
Em 1881, não satisfeito, voltou aos dubletos crown/flint os quais, isoladamente, tinham uma horrível aberração esférica, porém, um compensava o outro. O nome Antiplanet foi escolhido para significar justamente algo em oposição às Aplanats por sua quebra de simetria.

No tratado enciclopédico de Charles Fabre, de 1889, a Gruppen Antiplanet é apresentada com seus elementos traseiros cônicos (imagem acima).
Adolph Steinheil também já vinha pesquisando vantagens de se aumentar a espessura dos vidros e reduzir ao mínimo o ar entre os elementos para reduzir o flare. Na Gruppen Antiplanet temos uma fresta mínima por onde se insere um diafragma e os vidros do grupo traseiro formam um bloco realmente muito espesso.

Esteticamente, um bloco de vidro óptico como esse é muito bonito e impressiona de ser ver e manusear. O espaço entre os grupos é tão estreito que ao inserir o diafragma tipo Waterhouse não é difícil acabar raspando um pouco o verniz preto que é aplicado na borda das lentes, como se vê na foto acima.
O que estava em jogo no desenvolvimento das Aplanats e depois das Antiplanets seria a primeira lente realmente de uso geral em fotografia. Até essa época estavam disponíveis para o fotógrafo as lentes para retratos, tipo Petzval, as lentes para paisagens que eram simples dubletos acromáticos com o diafragma à frente e algumas grande angulares como a Globe (1860) de Harrison e a Pantoskop (1865) de Emil Busch, que chegavam perto dos 90º mas com aberturas f/30 ou f/25. Não havia uma lente que fosse razoável nos três quesitos ao mesmo tempo: em ângulo de visão, em luminosidade e nitidez em todo o campo da imagem. Sem uma lente assim, a fotografia não poderia ter câmeras amadoras com lentes fixas, não com o nível de sensibilidade do colódio úmido que era o método em voga na época. Gruppen, que significa “grupos” no alemão, seria essa lente média, entre o retrato e a paisagem, e poderia funcionar em muitas situações. Seria a tão esperada lente de uso geral.
A fotografia sempre dependeu do desenvolvimento simultâneo dos vidros, da óptica geométrica e da química dos materiais sensíveis. Cada vez que um desses três pilares passava de um degrau a outro no seu desenvolvimento, ele aliviava as exigências para os outros dois. Foi assim que até mesmo o menisco, a lente simples, côncava/convexa, foi longe século XX adentro em câmeras populares, graças à introdução da gelatina de prata para a qual aberturas como f/16 ou f/32 não eram mais barreiras para se fotografar em muitas situações.

A Gruppen Antiplanet de Hugo Adolph Steinheil, desenhada com as ferramentas matemáticas de Philipp Ludwig von Seidel, foi um dos pontos altos onde se conseguiu chegar antes que novos vidros fossem desenvolvidos e que permitiriam enfim a produção de lentes anastigmáticas cuja matemática já era conhecida.

A tabela acima mostra os 6 tamanhos em que foi fabricada. Esta Gruppen Antiplanet é a da terceira linha, possui 18,4 cm de distância focal. A pupila de entrada (Oeffnung) tem 33 mm de diâmetro. Sua abertura é portanto de f/5.6, muito luminosa para uma lente de uso geral. O ângulo de visão é de 70º (Eder) com o diafragma fechado em f/16. O formato é 12,2 x 9,5 cm com diafragma aberto e 14,9 x 13,5 cm no mais fechado, como se vê na tabela acima. Essas medidas são em geral muito rigorosas e referem-se mais à área de nitidez. Eu tenho fotografado com ela no formato 13 x 18 cm e não se nota nenhum fall-off.
O número de série desta lente é 14.534, de acordo com Agostini isto indica ano de fabricação em 1885. Sobre o corpo está escrito “Steinheil in Munchen nº 14.534 patent”. Infelizmente, Steinheil tinha o mau hábito de gravar o nome da lente na flange e, mais infelizmente ainda, muitas lentes foram separadas de suas câmeras sem que as flanges fossem retiradas das mesmas para que continuassem juntas. Então hoje é muito comum encontrar lentes da Steinheil sem um nome claro que as identifique pois elas estão sem a flange. No caso desta Gruppen Antiplanet isso é menos grave pois seu desenho é tão distinto de tudo o que existia que fica fácil ter certeza de sua identidade. Mas com muitas Aplanat a questão pode ficar bem complicada pois muitos tipos diferentes se parecem entre si.

Além de não ter flange esta lente também não tinha os diafragmas Waterhouse. Estes que aparecem na foto foram calculados usando este método e depois impressos em ABS preto em impressora 3D. Sem nenhum diafragma ela tem uma pupila de entrada de 33 mm o que lhe dá uma abertura f/5.6. A menor abertura que eu fiz, que se vê na foto, corresponde a f/32.
Como que para compensar que ela veio sem flange e sem os diafragmas, o estado geral do corpo, do verniz e dos vidros é excelente e é um grande prazer fotografar com este marco da história das ópticas fotográficas. As duas fotos abaixo foram feitas no formato 13×18 cm com Fomapan100 revelado em Parodinal e copiadas por contato sobre papel Foma 111.

