– Agfa Flashlight Lamp –
– Lampe-éclair Agfa –
– Agfa Blitzlampe –
Agfa – c1900
Este é um aparelho para iluminação com uso de flash em pó, flash powder, no inglês e poudre-éclair, no francês. Há um post na secção faça você mesmo, com instruções para preparação da mistura e sobre os tipos de construção em geral para estes acessórios do fotógrafo amador no final do século XIX e primeiro quarto do século XX. Ele leva apenas dois ingredientes, é muito fácil de fazer e ilumina muito. Acesse o link flash em pó.
Este é um modelo comercial da Agfa com ótimo acabamento. Pelo seu tamanho e por ser desmontável seria uma peça para acompanhar uma máquina igualmente portátil e representa uma nova concepção de fotografia almejando um público bem maior.
Seu princípio de acionamento se baseia em uma pequena pedra de isqueiro, uma liga de ferro-cério, que é friccionada por uma roda dentada e joga fagulhas sobre o pó que fica na bandeja à frente. Uma mola dever ser armada e com o polegar (figura abaixo) ou com uma pêra pneumática (com adição de um acessório) a mola é liberada e a roda dentada gira rapidamente produzindo o efeito.
Abaixo está uma folha de instruções que fala sobre o pó que era vendido, sob a mesma marca Agfa, alemã. Ele vinha em duas partes separadas que deviam ser misturadas para uso. Seu material combustível era o magnésio mas não há menção de outros ingredientes. A fórmula mais simples seria uma mistura com Nitrato de Potássio, mas os fabricantes de pó tinham seus segredos para regular a duração, a iluminação e a fumaça que se desprendia. Como regra geral, os pós destinados à iluminação tem uma proporção menor de oxidante e maior de combustível, de modo a alongar o tempo de queima e diminuir o efeito explosão, pois este que seria desejado na indústria bélica, era a se evitar na fotografia.
É interessante anotarmos as quantidades. Acompanhava a embalagem uma pequena colher correspondente a ½ grama.
- retratos ¼ g
- pequenos grupos 1 g
- grupos médios 2 – 3 g
- grandes grupos 4 – 8 g
Essas quantidades são para o pó, mas no final da folha faz-se referência a este aparelho que é de pequeno porte, a Lampe-Éclair Agfa, ressalvando que para ele a quantidade máxima é de 2 ½ g e que isto já é suficiente para todo trabalho amador.
Abaixo, as instruções, agora em inglês, da Agfa Flashlamp, Diz que uma pedra de isqueiro é suficiente para centenas de vezes. Mas em uma outra publicação fazendo uma avaliação dos sistemas existentes (citada no post flash em pó), o autor pondera que esse sistema, não fala especificamente da Agfa, não durava muito por causa da própria combustão deteriorando a pedra e o mecanismo de acionamento. Este aparelho é tão robusto e bem acabado que eu acredito que talvez já tenha sido uma solução para os problemas apontados. Eu o utilizei algumas dezenas de vezes sem notar nenhuma piora visível.
Aqui uma propaganda na contra-capa da Photo Miniature de março de 1910. A principal mensagem é “Modelo melhorado, Absolutamente Infalível, sempre pronto para uso, conveniente tamanho de bolso”. A questão da infalibilidade devia ser mesmo o ponto chave dessa categoria de produtos. Há uma grande dose de imponderabilidade na geração de centelhas por esse método. Quantas vezes não falha um isqueiro a gás conforme o jeito que você o aperta? Eu já tive alguns casos de falha no acionamento na Agfa Lampe. Mas talvez as pedras de antigamente fossem melhores que as de hoje.
Aqui uma foto da bandeja e outra com o aparelho carregado e pronto para uso. Essa quantidade de pó realmente serve para se fazer um retrato de corpo inteiro com f11 em um filme 125ASA. Depois de alguma falhas eu passei a colocar um pedaço muito pequeno de pavio rápido na saída das fagulhas e isso resolveu. É um pavio que se compra em lojas de fogos de artifício e nada mais é que um papel enrolado e impregnado de pólvora. Menos de 1 cm já é o suficiente.
Este foi um experimento que fiz e que aconselho a qualquer um que queira utilizar flash em pó também fazer pois ele poupará muitos outros testes mais complicados se não frustrantes. A ideia foi filmar um processo de combustão completo desde o acionamento até o início da extinção do clarão do flash. Filmei em 30 quadros por segundo e depois analisei em um programa de edição de vídeo o tempo e os eventos. O intervalo analisado foi de apenas 1 segundo.
Como eram 30 quadro por segundo eu reproduzo ao lado um sim e um não de modo que o tempo cresce de a incrementos de 1/15. Vemos que até 4/15 as fagulhas ainda estão como que procurando se encontrar. Em 5/15 já começa a parecer um clarão bem definido que ainda leva 4 quadros para atingir algo realmente expressivo. Quatro quadros significa algo bem próximo de 1/4 de segundo.
Há um ruído da queima que acompanha bem essas duas primeiras fases e cresce realmente na terceira e mais importante que vai de de 9/15 até 13/15. Isso ajuda muito no sincronismo pois ele foi feito manualmente. Eu tinha a Lampe-Éclair Agfa na mão esquerda e o disparador na direita. Sou destro e achei que o mais crítico seria o disparador.Quando o ruído passa para a fase dois, marcada em verde, já é hora de pressionar o botão da câmera ou cabo disparador. O tempo de sua reação é o tempo de entrarmos de vez na fase vermelha quando o obturador já deve estar aberto para aproveitar a luz em sua potência máxima.
Depois dessa experiência compreendi melhor o processo de queima e já não me preocupa muito a questão do sincronismo se eu puder usar uma velocidade de obturador de 1/8 ou mais lenta. Com 1/4 pode-se pegar todo o ciclo do pico. Mas prefiro abrir mais a lente, já que a luz é farta e mesmo abrindo ainda estamos lá por f8 ou f11, e tentar encaixar o 1/8 dentro do 1/4 de duração do clarão.
Creio que isso deve mudar de um pó para outro mais do que de um aparelho para outro. Usei o mesmo tipo de estratégia com um outro aparelho maior que fiz (também está no post flash em pó) e tem dado certo. Mas aconselho você a filmar o seu pó queimando pelo menos uma vez e analisar em um editor de vídeo para poder entender o comportamento dele. Como foi dito acima, com mais combustível a queima, que depende do oxidante, é mais lenta. Com mais oxidante, ela é mais rápida (e mais perigosa). Faça uma mistura com a 50% e talvez pequenas variações sobre isso possam ajudar a achar o seu tempo certo.
Embora esse processo seja muito antigo acho que é muito interessante de se usar justamente com fotografia digital pela facilidade que ela proporciona de verificação e eventual repetição caso algum erro tenha ocorrido.
Uma foto feita com a Agfa Lampe-Éclair. Foi utilizada uma Crown Graphic da Graflex com filme 4×5″, Ilford FP4 ASA 125 , com a lente em f16 e obturador a 1/8 s.