– Brownie Camera Nº 2 | Kodak | 1901/1933 –
Câmera muito especial. O filme 120 foi introduzido no mercado por causa das Brownies! É o mesmo filme que usam Super Ikontas, Rolleis, Hasselblads e tantas outras câmeras de primeira linha. A vermelha, à esquerda, está em excelentes condições e foi um presente de um amigo alemão que a recebeu de presente quando ainda era criança. A preta também foi presente e a azul encontrei no Ebay. A lente é simplesmente um menisco com um obturador rotatório. Para o diafragma você tem três opções com uma lâmina deslizantes com os três furos e há um clique na posição correta. Velocidades são B e alguma coisa por volta de 1/30. Nessa época usava-se muito tabelas em vez de fotômetros. Abaixo temos uma do manual da Brownie nº2. Note que essa tabela é para fotos em interior e não há nada abaixo de 2 segundos.
Essa situação, 2 segundos, é o caso quando as paredes da sala são brancas, com sol e dia limpo do lado de fora e pelo menos duas janelas abertas. Nesse caso alguém pode usar apenas 2 segundos com o diafragma mais aberto (são disponíveis f16, f20, f32). Essas aberturas tão pequenas são necessárias por conta de uma lente que é apenas um menisco, como foi dito acima, não há correção alguma e por isso fica-se limitado à uma área útil da lente muito pequena ou as aberrações destroem a imagem.
A ideia da Kodak com essas câmeras era tornar a fotografia acessível a todos em matéria de custo e de habilidades. Junto com a camera era comercializado também tudo que alguém precisaria para o amador chegar até a cópia final mesmo sem ter um laboratório em casa. Além disso, o que provou ter mais futuro, ofereciam o serviço de revelação e ampliação pelo correio. Você pode ver o aparelho que era vendido para revelação à luz do dia na minha página Tanques para Revelação de filmes.
Mesmo eletricidade não era necessária para guardar lembranças das férias. Kodak comercializava também ampliadores usando luz do dia. Ideia muito simples, algo como uma câmera fotográfica tendo filme de um lado e papel fotográfico do outro. Veja também a luz de segurança Pigeon para ter uma ideia do verdadeiro laboratório fotográfico anterior à eletricidade.
Outro acessório interessante era o Kodak Amateur Flash Outfit que aparece no manual da câmera.
Abaixo você tem as páginas 2 e 3 do manual.
A Brownie Nº2 foi tamanho sucesso que foi fabricada em vários países. Entre os exemplares que tenho, a vermelha foi fabricada na Inglaterra, a azul e a preta nos Estados Unidos. Veja muito mais informações sobre Brownies no site The Brownie Camera Page
Apesar de toda a sua simplicidade, isso não impediu a Kodak Brownie Nº2 de figurar entre as mais sofisticadas câmeras da história da fotografia analógica quando em 1954 Virginia Schau teve sua foto “Rescue On Pit River Bridge” laureada com o mais importante prêmio do fotojornalismo americano. Virginia foi a primeira mulher a vencer o Prêmio Pulitzer de Fotografia. Amadora, ela contou que sempre levava a câmera consigo, mas quase nunca tirava fotos com ela. No dia 3 de maio de 1953, ela ia a uma pescaria com seus pais e o marido quando viram o grave acidente com um caminhão que ficou pendurado na ponte. O motorista e seu ajudante ficaram na iminência de cair com a cabine inteira no leito do rio e precisavam ser retirados de lá imediatamente. Enquanto os homens providenciavam o resgate ela pegou sua Brownie, na qual ainda tinha apenas chapas, posicionou-se e fez a foto justo no momento em que o motorista do caminhão era içado para a ponte. Virginia usou a luz do sol posicionando-se de modo a chamar a atenção justo sobre o que interessa e obteve assim uma composição perfeita.
Ela inscreveu a foto em um concurso semanal do jornal Sacramento Bee e ganhou 10 dólares com o primeiro prêmio. Em seguida a foto foi promovida pela Associated Press, e publicada no mundo todo. No ano seguinte veio o Pulitzer.
O interessante dessa história é se pensar que ela ilustra bem o fato de que as câmeras sofisticadas o são justamente por sua capacidade de adaptarem-se a um grande número de situações diferentes, combinando o assunto com as intenções do fotógrafo. Mas com uma câmera simples é o assunto que precisa se adaptar às limitações do aparelho, como foi o caso da imagem de Virgínia Schau. Em muito menos situações o fotógrafo poderá fazer o seu click. Mas quando isso acontece, fotos maravilhosas podem surgir.
Para terminar algumas fotos que tirei com a vermelha. Mesmo com filmes atuais, que permitem velocidades mais rápidas, um tripé ajuda muito.