– Câmera de colódio | fabricante desconhecido | c 1862 –
Comprei esta câmera em junho de 2008 em Bièvres na França na feira anual de fotografia que acontece há 52 anos todo segundo final de semana de junho. Trata-se de uma câmera de collodium tendo como objetiva uma Darlot Cone Centralisateur, ambos em excelente condições de conservação. Collodium, colódio no português, também conhecido por Wet Plate, no inglês, é um processo de produção de negativos em placas de vidro que reduziu o tempo de exposição ao redor de 1 segundo em condições de muita luz, isto é fotos externas. Em situaçoes de luz mais fraca alguns segundos podiam ser necessários. Foi um grande progresso comparado com os Daguerreótipos que precisavam de muito mais para produzir seus positivos em placas prateadas. Em comparação com os Talbotipos (Talbotypes) foi um progresso também pois o colódio trouxe transparência para a fotografia pois o negativo era gravado, como dissemos, em vidro e vez dos papéis encerados usados nos Talbotypes. O único complicador é que o colódio exige que o vidro seja preparado no local onde será feita a foto, com a aplicação da base de colódio e depois um banho em solução de prata, e carregado na câmera ainda úmido. Entre sensibilizar a placa, fotografar e revelar não podem se passar mais que dez minutos, dependendo das condições de umidade e temperatura do local, se não a sensitividade à luz se perde.
Esta é uma máquina sem marca como muitas outras de seu tempo. Poderia ser por que o fabricante simplesmente não se importava com o assunto. Alguns eram muito caseiros. Ou, pelo contrário, por que a produção era ilegal por infringir direitos de marcas e patentes. Foram muitas as disputas e processos no início da fotografia disputando sobre fórmulas, projetos e marcas. Esse era o caso para câmeras, lentes, acessórios e processamento das imagens. Voigtlander teve, por exemplo, uma disputa com o jovem matemático Petzval, que desenhou a primeira lente realmente eficaz para a realização de retratos, e mudou-se de Viena para Braunschweig, alega-se, que foi para ter liberdade de produzir milhares de lentes sem pagar nada a Petzval. O daguerreótipo foi adquirido pelo governo Francês de Daguerre e herdeiros de Nièpce e tornado imediatamente de domínio público. Isso ajudou tremendamente a rápida difusão da técnica. Talbotypes, que eram propriedade intelectual de Henry Talbot, embora tivessem o conceito negativo/positivo que provou ser o futuro da fotografia, demorou muito mais para decolar por conta desses complicações com patentes.
A ilustração acima mostra uma câmera que é exatamente como a minha e eu a tomei de um livro chamado Traité Special de Photographie, de 1875, publicado por um fabricante de equipamentos fotográficos chamado Dubroni. Talvez seja a própria ou talvez uma copiou a outra, difícil saber. Encontrei uma câmera muito similar à minha no Museu Francês da Fotografia em Bièvres. Como a minha estava ainda equipada com uma Darlot e até onde pude ver não tem marca. Mas não consegui nenhuma outra informação mesmo no museu.
Sendo cópia ou não, mercado paralelo ou não, o fato é que esta câmera é muito bem construída. Sólida, com dove tails estruturando as paredes e a madeira, com tantos encaixes móveis, está ainda justinha e sem jogos.
É muito raro se encontrar nos dias de hoje uma câmera de colódio tão bem conservada. O fato de que as placas eram carregadas molhadas fazia com que elas se perdessem por conta do molhar e secar anos a fio. Provavelmente esta pertencia a um amador e parece que foi usada poucas vezes. Há apenas uma mancha escura (típica da prata) visível no encaixe do chassis e uma outra na base. Ela veio sem nenhum chassis que estes sim, deveriam se estragar muito rapidamente.
Como na maioria das câmeras de colódio, o vidro despolido e o chassis são postos e retirados sempre por cima. Esta tem uma abertura 18 x 18 cm, o que significa que é uma “meia placa”, ou 13 x 18 cm. A escolha entre retrato ou paisagem é feita no momento em que se carregava a chapa de vidro no chassis. Isso não era problema pois nesse momento, diferentemente das outras câmeras para processos a seco, o fotógrafo precisa ter tudo pronto para a correria de revelar o negativo ainda úmido. A foto abaixo, encontrada no site American Civil War Photography, mostra o peculiar chassis quadrado e os encaixes para as duas posições retrato ou paisagem.
Uma outra marca de algum antigo dono é esta misteriosa figura sentada que foi rascunhada no vidro despolido. Obviamente, ela agora faz parte da história e não irei apaga-la.
Finalmente uma heresia de minha parte: eu confeccionei uma moldura seguindo as medidas da montagem do vidro despolido original e adaptei a ela um novo porta chassis com um novo despolido. Agora posso usar a câmera com a famosa Darlot Cone Centralisateur, com desenho tipo Petzval, utilizando filmes atuais em um chassis da Linhof! Ainda pretendo tentar fazer colódio mas por enquanto já fiz alguns retratos que você pode ver na página da Darlot.
Perfeito! Adorei a coleção e você sabe o quanto eu gosto desses brinquedos! Bom ter amigos que preservam mesmo a história da fotografia, um abraço grande.
Obrigado Severo,
É bom ouvir esses comentários tão positivos pois dá um trabalhão escrever, fotografar as peças, pesquisar para não dizer besteiras… e ainda tenho muito material para subir no site e então é sempre um ótimo incentivo saber que pelo menos as pessoas estão lendo e gostando. Abraços, Wagner