1950 – 1954
Esta é mais uma das centenas ou talvez milhares de câmeras médio formato para amadores que a Kodak produziu ao longo de sua história. Alguns sites classificam a Duaflex como uma pseudo TLR (Twin Lens Reflex), o que seria algo como: falsa câmera de objetivas gêmeas. Isso tem fundamento pois as lentes não são iguais, nem mesmo semelhantes, para suportar o “gêmeas”. A lente do visor não foca em um vidro despolido como nas Rolleiflexes ou Yashicas. Ela tem, na verdade, apenas um visor óptico avantajado e com espelho para ser visto por cima. Também argumenta-se, para desclassificá-la como TLR, que as lentes não são acopladas, isto quer dizer, provavelmente, que ao movimentar uma a outra não a acompanha. Mas aí talvez seja uma injustiça pois na Duaflex II, nenhuma delas se move, pois o foco é fixo. Pode-se considerar assim que estão acopladas enquanto fixas.
De qualquer forma, o visor é muito claro e tem um bom tamanho. Acho até que com ele é mais fácil enquadrar do que o de qualquer TLR verdadeira.
O filme utilizado é o 620. Incompreensível para mim como que a Kodak lançou um filme tão parecido porém incompatível com o então já cinquentenário e muito bem estabelecido 120. Seria mais um ponto em comum com as primas ricas TLR.
Na foto acima o rolo da esquerda é um filme 120, ainda fabricado, a bobina ao centro é a 620. O filme e o papel de proteção são compatíveis. É possível, se você tiver duas bobinas de 620, simplesmente passar o mesmo papel e filme do 120 para a bobina do 620.
Só não é possível colocar o filme 120 com sua bobina original em uma câmera Duaflex ou outra que utilize 620 pois esta segunda é um pouquinho mais baixa que a primeira. Percebe-se na foto acima que por ser toda metálica esta bobina acaba sendo externamente mais baixa.
O processo para se rebobinar um 120 consiste em 2 etapas realizadas em completa escuridão:
- Passe todo o filme 120 não exposto para uma outra bobina 120 como se tivesse sido exposto.
- Passe todo o filme “exposto” para uma bobina 620
Atenção para um detalhe importante: na primeira etapa, você terá o lado adesivado, ponta presa, do filme chegando na frente. Isso é fácil, ele será guiado e enrolado normalmente na segunda bobina 120. Já na segunda etapa a ponta do filme que irá chegar estará solta! Você é que precisa engajá-la corretamente na bobina 620. Faça isso procurando deixar o filme sempre solidário ao papel. Faça toda essa operação deixando sempre filme e papel bem apertados e sem folgas entre eles. Se você deixar folgas, quando chegar a ponta presa do filme haverá filme sobrando. Se for só um pouco, não é grave, você pode soltar delicadamente o adesivo do papel e deixar que ele se assente e cole um ou dois centímetros mais à frente no papel. O importante é que o rolo fique bem justo e sem folgas.
A câmera se abre, como as TLR, a partir da aresta traseira do topo da câmera. Pode ser um pouco difícil pois a trava (na parte inferior da foto acima) precisa ser pressionada para baixo para desengatar, ao mesmo tempo que se puxa a tampa toda para girar para trás a partir da aresta oposta. O problema é que a força para baixar a trava tem o efeito de forçar a tampa no sentido de dificultar o seu movimento. Você solta a trava mas prende a tampa. É preciso um pouco de treino e paciência.
A lente é uma 75mm f/15 chamada Kodet. Aparentemente é apenas um menisco, isto é, uma lente simples côncava na parte interna e convexa na externa. A abertura pequena é que se encarrega de cortar as inevitáveis aberrações de uma construção tão simples. O obturador tem as opções B (aberto enquanto você pressiona) ou I para instantâneos, sendo I a velocidade fixa.
Em um teste com um foto-diodo ligado a um osciloscópio verifiquei que o obturador fica 25 ms aberto. Na foto acima vemos o momento em que a voltagem começa a subir e também quando começa a cair no foto-diodo. O intervalo corresponde a 1/40 s, que é uma velocidade mais ou menos padrão para esse tipo de câmera. Rápida o suficiente para fotos sem tripé mas um pouco lenta se o assunto se mover mais. Por exemplo, uma pessoa andando na transversal do eixo da lente já sairá um pouco borrada (veja na foto abaixo).
A Duaflex possui um flash dedicado para uso com os bulbs #5. Mas eu não tenho o dispositivo.
Enfim, é uma câmera para fotos externas, em dias minimamente claros, dependendo do filme e revelação. Ela é plenamente utilizável nos dias de hoje, desde que você se anime a enrolar um filme 120 na bobina 620. Fazendo 12 chapas no formato 6 x 6 cm (2¼ x 2 ¼”), é uma câmera boa para um passeio quando o horário e as condições meteorológicas o permitam. Você faz um filme inteiro, com a mesma velocidade e a mesma abertura, e acomoda posteriormente possíveis diferenças de exposição no scanner ou no ampliador.
Abaixo duas fotos feitas com este exemplar deste post.
O filme foi um Ilford FP4 revelado em Pyrocat HD. A ampliação foi em papel fibra da FOMA. O tempo e abertura… você já sabe.
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Olá. Com um filme 620, quantas exposições são possíveis com uma Duaflex?
Ela faz 12 fotos por filme. Se você usar filme 120 rebobinado no carretel de 620, dá até para usar a mesma numeração que vem marcada do papel do filme.