Parodinal, revelador caseiro em mono-doses

Este é um revelador que você pode fazer facilmente em casa. É muito versátil, tem uma longa vida na forma concentrada e é fácil de usar. Sua fórmula utiliza diluições de 1:25, 1:50, 1:100, e até 1:200 em água. É uma ótima opção para revelação de filmes preto e branco para quem revela ocasionalmente e quer trabalhar com apenas um revelador que seja barato e versátil.

Agente revelador

A maior parte dos reveladores desenvolvidos no século XX utilizam metol + hidroquinona (MH), ou fenidona + hidroquinona (PH, P de phenidone), como agentes reveladores de base. O metol e a fenidona são reveladores enérgicos e agem sobre todas as partes da imagem , sombras e luzes: o contraste resultante é fraco. Um revelador como a Hidroquinona é menos enérgico e revela mais rapidamente as partes que receberam mais luz. Isso resulta em mais contraste na imagem final. Então, nas fórmulas dos reveladores MH ou PH busca-se um equilíbrio entre esses extremos misturando-se os dois reveladores em um meio alcalino. O Parodinal utiliza um único agente revelador que é o p-aminofenol, ou para-aminofenol, ou ainda 4-aminofenol. Ele é um revelador de energia média, justamente entre o metol e a hidroquinona, e por isso pode resultar sozinho em um revelador que funciona muito bem como revelador universal.

O problema para o fotógrafo de hoje é que o para-aminofenol é muito caro e difícil de comprar. Mas alguém descobriu que o paracetamol, ou acetaminofeno (nomes diferentes para a mesma substância) quando em presença de um álcali bem forte, combina-se para formar para-aminofenol. Isso possibilitou a formulação do Parodinal, sendo que o paracetamol é exatamente o analgésico que se acha em qualquer farmácia entre opções de marcas famosas ou genéricos.

Isso faz do Parodinal, um descendente direto do Rodinal, revelador famosíssimo na história da fotografia. Lançado em 1891 pela Agfa utilizando o para-aminofenol como agente revelador. O Rodinal ficou em produção pela própria Agfa até 2008 e depois o nome passou a ser usado por outras empresas que adquiriram o direito da marca. Esta é  uma embalagem vintage do Rodinal. Como ele foi, se não o primeiro, certamente o mais famoso revelador a utilizar o para-aminofenol, acabou dando o nome ao Parodinal.

 

Fórmula

O “pa” deve vir do paracetamol, mas eu pesquisei e não consegui achar nada sobre a gênese desse revelador. Não sei nem mesmo se o Parodinal tem um autor histórico ou se é algo que foi nascendo colaborativamente entre vários fotógrafos/pesquisadores. Também não sei se existe uma fórmula oficial. Existem variações, mas a que adotei, e que tem me proporcionado ótimos resultados é a seguinte:

  1. Água 250 ml
  2. Paracetamol 15 g
  3. Sulfito de sódio anidro 50 g
  4. Hidróxido de sódio 20 g

Note que diferentemente da maioria das outras receitas de laboratório não se trata aqui de “água para completar 250ml”. Você deve começar com efetivos 250ml e irá terminar com um pouco mais que isso quando adicionar os reagentes.

Ingredientes

1. Água H2O

Todo revelador é um agente redutor, isto é, ele doa elétrons para os íons de prata (Ag+) e estes formam os grãos de prata metálica que formam a imagem. Nessa ação ele próprio, revelador, se oxida. O revelador se consome e a partir de um certo ponto não consegue mais doar elétrons em um certo sistema químico pois estará no mesmo potencial dos outros participantes do sistema. A água possui muito ar dissolvido e contém oxigênio. Uma evidência de que há muito oxigênio na água é lembrar que os peixes não tiram oxigênio do H2O, tiram direto do O2 que está presente na água em abundância. Este é o oxidante por excelência (de onde vem o nome oxidar). O oxigênio compete com a prata para oxidar o revelador. Na verdade ele começa mesmo antes da revelação já na própria água que irá diluir o agente revelador na solução de estoque e mais tarde, mais ainda, na solução de trabalho.

reação geral da revelação fotográfica, red = revelador/redutor
Ag é o símbolo da prata, “e” é elétron

Para minimizar esse efeito os reveladores normalmente possuem “caçadores de oxigênio” (oxygen scavengers), normalmente esse é papel do sulfito de sódio. Ele tenta consumir o oxigênio para que o poder oxidante do revelador seja preservado para quando ele estiver de fato revelando a emulsão fotográfica e não chegue no seu tanque de revelação já exaurido. Mas em qualquer caso, essa ação é limitada, depende da concentração de sulfito de sódio e por isso devemos sempre tentar dar menos trabalho ao agente conservante.

O boa prática manda trabalhar de modo a ter o mínimo de ar dissolvido na água em que iremos fazer o revelador. Isto vale para qualquer revelador. É impossível zerar, porém, fervendo a água e rapidamente misturando o revelador podemos melhorar bastante a situação. O tanto de ar que está dissolvido depende do contato com o ar e da temperatura da água, mas leva um tempo para ela recuperar o que perdeu durante a fervura. É preciso baixar a temperatura e misturar os ingredientes sem perder tempo. Isso melhora a energia e vida útil do revelador. Eu fervo em um béquer no microondas e baixo para 60ºC iniciando a mistura imediatamente.

Outro ponto sobre a água é que deve-se utilizar água destilada ou desmineraliza. Isso é simplesmente porque nunca se sabe exatamente o que contém a água de torneira. Pelo menos na solução de estoque isso deve ser norma.

2.Paracetamol C8H9NO2

A fonte mais imediata são os analgésicos, em comprimidos ou em líquido. É preciso fazer uma conta dos miligramas mg, do princípio ativo de paracetamol, para dar as 15g da fórmula. Lembrando que 500 mg correspondem a 0,5 g. Isso resulta que 30 compridos de 500 mg, formato muito usado no comércio, constituem a medida certa para uma receita.

Bom notar, porém, que um comprimido de 500mg de paracetamol, se você colocar em uma balança, terá facilmente algo como quase 700mg. Isso quer dizer que nele estão embarcados, além dos 500mg do princípio ativo, mais ~1/3 em massa de coisas que não sabemos o que são. Isso não deve ser um problema pois na web um número enorme de pessoas relatam usar o analgésico com sucesso. Mas prefira algum que não tenha nenhum coadjuvante. Analgésico com Vitamina C (ácido ascórbico) pode ser uma boa combinação para uma gripe, mas não seria para um revelador. Eu acho que nessa hora os genéricos são os mais aconselháveis pois para ter o menor custo provavelmente colocam o mínimo necessário além dos 500mg de paracetamol.

Se você tiver oportunidade de adquirir Paracetamol puro, como reagente, aí você estará mais tranquilo quanto a esse aspecto. Eu tenho utilizado com grau de pureza USP, que é menor que o P.A., mas certamente maior que nos analgésicos, e os resultados são muito bons. Outra vantagem enorme está no preço. É muito mais barato comprar paracetamol como reagente, em pó, do que como medicamento. Mas também é verdade que em absoluto mesmo o medicamento não irá pesar muito no seu bolso. Quanto á vida de prateleira do paracetamol em pó, eu pesquisei e encontrei que à temperatura ambiente e protegido da umidade ele é bem estável.

Segurança:

O Paracetamol é algo que ingerimos, então, logicamente, não pode ser muito venenoso no contato com a pele ou mesmo traços de paracetamol pelas vias respiratórias. Em uso normal na preparação do Parodinal o paracetamol não apresenta perigo algum. Se cair um pouco nas suas mãos, lave-as quando puder. Apenas como curiosidade, já que estamos falando dele, vale lembrar que o paracetamol agride muito o fígado e nunca deve ser tomado junto com bebida alcoólica. Ele é tão agressivo que uma dose de 10g ao longo de um período curto pode ser fatal. Quatro comprimidos de 500mg por dia em 5 dias já dão 10g de paracetamol!

Paracetamol na pubChem (inglês) Paracetamol na Wikipedia (português)

3. Sulfito de Sódio Na2SO3.

O sulfito de sódio é presença quase obrigatória em qualquer revelador. Ele age como conservante inibidor da oxidação do agente revelador pois é ele próprio um redutor e compete com o revelador capturando oxigênio. É um reagente estável e deve ser utilizado no tipo anidro. Ele tem boa solubilidade em água, 27.0 g/100 ml de água a 20 °C, bem abaixo da concentração no Parodinal que é 20g / 100ml, porém dissolve-se muito lentamente (você verá no vídeo).

Segurança:

O sulfito de sódio não é um reagente considerado de toxidade elevada. Mas ele não deve ser inalado ou ingerido. Se houver contato com a pele esta deve ser lavada e isso já basta para que qualquer perigo seja afastado. Se cair na bancada recolha com escova e pá. Eu uso um pincel grosso e uma folha de filme fotográfico velho. O sulfito de sódio é regularmente utilizado como anti-oxidante em frutas e hortaliças para que mantenham o frescor por mais tempo. Isso acontece novamente por sua capacidade de competir com outros redutores capturando o oxigênio. É claro que isso se faz em doses mínimas, mas dá uma ideia de que não se trata de nada que se saiba cancerígeno ou de efeito cumulativo pernicioso.

Um cuidado: você pode achar que se formaram alguns agregados dentro do frasco plástico, algumas “pedras”. Pode achar uma boa ideia apertar o frasco ou agitá-lo fortemente para que volte a ser pó solto. Não há problema com isso, porém, deixe o frasco descansar fechado um longo minuto antes de abrir pois o sulfito de sódio é fino o bastante para formar um pó em suspensão no ar por alguns instantes. Se o frasco for imediatamente aberto você poderá inalar esse pó. Se você verter o sulfito de sódio diretamente no recipiente da balança, também pode acontecer de um pó fino se liberar para o ar. Use máscara ou faça isso lentamente e mantendo o frasco longe o seu nariz.

Sulfito de Sódio na Wikipedia

4. Hidróxido de Sódio NaOH

É um dos álcalis mais fortes. Seu nome popular é Soda Cáustica. Suas propriedades corrosivas e de destruidor de gorduras fazem dele o ingrediente básico de desentupidores de pias e banheiros. No Parodinal seu papel é propiciar um ambiente alcalino que potencializa a ação do revelador. Todo revelador funciona melhor em ambiente alcalino. A quebra dos brometos de prata forma um ácido a partir do bromo e nesse ambiente o hidróxido de sódio age para neutralizar esse subproduto ácido impedindo que o Ph caia e atrapalhe a ação do revelador/redutor. Em especial, no caso do Parodinal, o hidróxido de sódio é responsável também pela conversão do paracetamol em para-aminofenol, que é o real agente revelador.

Segurança:

Este sim é muito perigoso mas, felizmente, fácil de controlar. O hidróxido de sódio é vendido normalmente em pequenas “pérolas” que têm de 1 a 2 mm de diâmetro. Ele não forma pó para ficar suspenso no ar e nem emana odores ou vapores para se infiltrar nas vias respiratórias. Ele pode ser controlado visualmente. Seu perigo vem dele ser altamente alcalino e causar queimaduras químicas na pele. Em solução pode também causar queimaduras mesmo em baixas concentrações. Como sempre em química, depende também do tempo de exposição. Ele é deliquescente, absorve humidade do ar, e seus grãos ficam pegajosos e facilmente grudam e se combinam com os óleos da pele em um processo de saponificação. Isso é muito rápido. Se entrar em contato com sua pele lave imediatamente. Você irá sentir como se fosse um sabão. Lave até voltar a ter a pele livre dessa sensação escorregadia e quando passar continue lavando por mais algum tempo. Você sentirá a mesma coisa se tiver contato com o revelador em si. Mas no revelador, solução de trabalho, o NaOH já estará diluído a 8% e lavar bem as mãos resolverá fácil e eficientemente se você for rápido. Não o deixe sobre a pele nunca. Mesmo sendo a pele é uma barreira muito boa a agressores externos pois sua camada mais superficial é feita de células mortas, o hidróxido de sódio ataca essa barreira. Nos olhos essa barreira não existe para algo forte como o NaOH. Uma queimadura de hidróxido de sódio pode cegar. Use óculos de proteção.

Óculos de proteção e máscara são facilmente encontrados a ajudam muito a evitar acidentes. A máscara, para uso geral em um laboratório de fotografia deve ser do tipo que não permita a passagem de partículas e também de vapores orgânicos. Converse com seu fornecedor para ver a marca/modelo que ele recomenda nesse sentido.

Da mesma forma, luvas nitrílicas, que são mais resistentes que as de látex, também constituem uma proteção muito recomendável. Roupas de manga comprida, calça comprida e sapatos fechados completam um bom conjunto de medidas de proteção individual.

Em qualquer caso, para minimizar estes riscos, não basta se vestir como um escafandro. Aqui vão algumas considerações que ajudam muito:

  1. Compre embalagens pequenas de 1000g ou 500g ainda que o custo por grama seja mais alto. Grandes acidentes acontecem mais quando se manuseiam grandes cargas.
  2. Mova-se firme e lentamente quando manusear um químico como este. Não é por ser perigoso que você deve manusea-lo nas pontas dos dedos. Ao contrário, segure com firmeza, abrace com os dedos os recipientes e utensílios. A soda cáustica não sai do frasco, ou copo, ou béquer sozinha se você os mantiver com a boca para cima. Tocar a parte externa dos frascos e tampas não são problema desde que você os mantenha limpos.
  3. Usar luvas de segurança é uma boa medida mas não libera você de ter esses cuidados todos para que o reagente não tenha contato com mais nada a não ser os recipiente que o contém. Não é por estar de luvas que você irá tratar a soda cáustica como se fosse açúcar.
  4. Tenha à mão tudo o que vai usar e evite ficar vai e vem, levantando e sentando no local de pesagem ou preparação.
  5. Abra e feche os frascos para que fiquem abertos o mínimo de tempo possível (até porque o hidróxido de sódio absorve água da atmosfera e se deteriora).
  6. É muito importante ter sempre água corrente e abundante no local onde se fazem misturas de reagentes. Se for improvisar um laboratório tem que ser no banheiro ou na cozinha. Não conte que não vai acontecer nada.
  7. Cuidado com copinhos descartáveis. Ás vezes eles estão com um fundo amassado que de repente se desamassa com um efeito de mola e pode arremessar grãos de NaOH relativamente longe. Verifique que o fundo esteja plano e sem tensões ou prefira recipientes mais rígidos.
  8. Se cair um pouco ou muito na bancada, sem pânico, remova o que for sólido com escova e pá, descarte no esgoto (os desentupidores de pia vendidos no supermercado são NaOH praticamente puro). Limpe a área com pano molhado que você deverá torcer, enxaguar e reaplicar diversas vezes até perceber que o que ficou é apenas residual. Obviamente faça isso com boas luvas.

Uma última observação é que o hidróxido de sódio, ao ser diluído na água, libera uma considerável quantidade de calor. Como aqui estamos falando de 20g em 250ml de água, isso não será de um efeito perigoso. Mas você irá certamente notar uma elevação de temperatura apenas por segurar o béquer. Não estranhe, isso é normal.

Hidróxido de Sódio na Wikipedia

Um revelador de banho único

Uma característica importante do Parodinal é que ele não se mantém bem uma vez que tenha sido diluído na solução de trabalho. Talvez por ser concentrado e precisar de uma grande diluição a concentração do conservador Sulfito de Sódio cai muito e a oxidação acontece rapidamente. Pierre Grafklides no seu clássico  Chimie et Physique Photographiques, assinala a esse respeito que: “As soluções de sulfito, de concentração inferior a 20% oxidam-se muito rapidamente. A alteração é menos sensível na presença de um redutor [que é o caso do para-aminofenol do Parodinal], pela ação anti-oxidante recíproca”. Bem, a concentração de sulfito de sódio na solução de estoque é de 20%  (50g em 250ml de água), mas quando diluída a 1:50 na solução de trabalho essa concentração cai a 0,4%. Mesmo na presença do revelador/redutor essa concentração é muito baixa para que o sulfito de sódio ajude muito para impedir a oxidação acelerada.

O resultado é que uma vez diluído o Parodinal deve ser usado imediatamente. Mesmo ao final de uma revelação de 10 min já é possível se notar uma coloração marrom mais escura e que vai escurecendo ainda mais em pouco tempo. As fotos acima foram feitas com o Parodinal diluído 1:50, à temperatura ambiente, por volta de 23ºC, no momento zero e 4 horas mais tarde. Esta é a oxidação do revelador em contato apenas com o ar, mesmo sem que nenhum filme tenha sido revelado.

O lado bom de usar o revelador de trabalho uma única vez é que temos assim uma consistência de resultados muito grande. Não precisamos nos preocupar se ele está novo ou quantas vezes já foi usado. Não há banho reforçador e nada disso. Isso seria problemático apenas se o custo fosse alto, mas esse não é absolutamente o caso.

As mono-doses

Se em um litro de água fresca encontramos 8 cm³ de oxigênio,  temos 210 cm³ de oxigênio no mesmo volume de ar em condições normais de pressão e temperatura (Wikipedia). Isso quer obviamente dizer que o ar é potencialmente muito mais nocivo a um revelador do que a água onde ele está diluído na solução de estoque.

Existem garrafas sanfonadas que podem colapsar para que estejam sempre cheias até a tampa, mas são difíceis de lavar e nunca colapsam até zero. Existem tanques com tampas flutuantes mas o ar vai se renovando pelas bordas da boia. Algumas pessoas vão preenchendo os frascos de revelador com bolinhas de vidro para repor o espaço deixado pelo líquido, mas o excesso de superfícies internas acaba expondo mais ainda o revelador à ação do ar. Existem sprays com gás inerte e pesado que pode ser usado para completar o frasco do revelador. Essa é a melhor solução até aqui, mas custa caro e com a redução do espaço na fotografia analógica já não é tão fácil achar desses sprays. São várias estratégias para minimizar a quantidade de ar dentro do frasco do revelador. Mas todas são falhas na medida em que é necessário abrir o frasco e este ato sempre renova o ar, por menos que seja, e proporciona assim mais oxigênio para estragar o revelador.

Eu adotei um procedimento que me parece o ideal. Logo depois de preparar o Parodinal em um vidro fechado e cheio até a tampa, eu fraciono a solução de estoque em pequenos vidrinhos de apenas 5ml cada um. A quantidade de ar é mínima e o pequeno frasco só será aberto uma única vez para usar o conteúdo total, já que se trata de um revelador de banho único como vimos logo acima. Na hora de revelar um filme 35mm eu uso um vidrinho em 250ml de água. Essa é a medida certa na diluição 1:50 em um um tanque padrão de inox. Se for um filme 120 eu uso dois vidrinhos em 400ml resultando em uma diluição um pouco mais forte 1:40. Para chapas em bandejas normalmente faço um vidrinho desses de 5 ml por chapa e uso uma concentração ainda mais forte pois é bom que revelação em bandejas seja rápida e em grande formato o grão mais acentuado que se forma não chega a ser problema.

Esse método tem ainda a vantagem de que é fácil saber quantos filmes ainda dá para revelar e no momento de revelar não preciso medir o volume pois já foi medido uma única vez. Sujo e lavo a pipeta uma única vez e faço pouco mais de 50 vidrinhos com uma receita de 250ml de água. Gostei tanto desse sistema que agora meu interruptor também fica sempre à mão em soluções de 50% de ácido cítrico em frascos plásticos de 5 e 10 ml. Meu revelador de papéis, o D72, eu guardo em frascos de vidro de 125ml e diluído em 1:4 dá certinho para uma sessão de impressões fotográficas até umas 10 ou 15 cópias 18×24 cm. Para os reveladores prefiro frascos de vidro pois eles normalmente fecham melhor e são mais impermeáveis ao ar do que os plásticos. Reutilizo os dois e até aqui parece que irão durar mais que eu.

Como preparar

Finalmente, vamos ao preparo. Esta receita é para 250ml de água como base para a solução de estoque. Dará um volume final um pouco maior devido à adição dos reagentes. Para outras quantidades é só fazer na mesma proporção.

  1. Escolha um frasco de vidro que possa ser bem tampado e que tenha 250ml. Normalmente isso deixa um espaço extra e é bom pois será utilizado pelos reagentes. Normalmente se recomenda um vidro âmbar. Eu tenho usado esse de vidro cristal para poder acompanhar a dissolução dos sólidos que, no caso do Parodinal, se dá no frasco fechado, como você verá no vídeo, e isso nunca me causou nenhum problema.
  2. Pese os reagentes conforme a fórmula já citada, paracetamol 15g , sulfito de sódio 50g e hidróxido de sódio 20g. Se estiver usando o analgésico você deverá triturar os comprimidos em um almofariz como esse da foto para que virem pó. Serão necessários 30 comprimidos de 500mg ou equivalente. Uma outra técnica é colocar os comprimidos em um saco plástico bem forte e triturá-los batendo com um martelo.
  3. Não confie em um béquer para media a água. Pode até ser que o seu esteja marcado corretamente mas, normalmente, não estão. Use uma proveta ou cálice graduado. Meça 250ml e transfira para um béquer. Ferva a água e espere baixar a temperatura para 60ºC sem agitar.
  4. Coloque ~200 ml de água no béquer e deixe o resto separado para mais tarde.
  5. Verta o Paracetamol, misture um pouco sem se preocupar que ele se dissolva completamente. Basta que não fiquem grumos ou pelotas grandes na superfície, pois isso indica que essas bolinhas estão secas por dentro. O importante é que todo ele se molhe. Mexa suavemente com um bastão de vidro. Não agite muito para não dissolver ar na água.
  6. Em seguida verta o Sulfito de Sódio e proceda da mesma forma. Finalmente verta mais lentamente o Hidróxido de Sódio e continue agitando suavemente. A temperatura irá subir consideravelmente com o Hidróxido de Sódio. Isso é normal.
  7. Verta agora o conteúdo do béquer no frasco de vidro com ajuda de um funil de ponta larga (ou ela ficará entupida). Muitos sedimentos sólidos ficarão no béquer. Use a água que separou para ajudar a carregar esses sólidos também para dentro do frasco. Você também pode esperar decantar um pouco o que está no frasco e voltar líquido para o béquer para ajudar a levar todos os sólidos para dentro do frasco.
  8. Tampe bem o frasco e deixe-o descansar por dois ou três dias. Muita gente recomenda que isso seja feito no escuro mas eu não acho que isso seja necessário. Apenas evite uma luz muito forte, como boas práticas de laboratório. Pela minha experiência, luz ambiente me parece não afetar do parodinal.
  9. Este período é para dar tempo ao Sulfito de Sódio se dissolver. Se for muita a ansiedade você pode inverter o frasco de vez em quando. Mas não se preocupe, há movimento mesmo no interior de um líquido parado e a dissolução irá ocorrer. Caso fique algo residual no fundo do frasco não há problema. Proceda para o passo 10.
  10. Filtre o revelador em um filtro de papel desses usados para café.
  11. Use uma pipeta com pera de borracha (pipetador) para encher os frascos de 5ml e tampe-os bem
  12. Pronto, você terá nesse momento revelador para mais de 50 filmes de 35mm ou o equivalente em outros formatos.

O Vídeo

Descrições  não dão a noção da aparência e do procedimento da mesma forma que um vídeo pode fazer. Por isso eu gravei uma produção de um lote de vidrinhos de Parodinal. No vídeo você verá o aspecto da mistura inicial, a maneira como o Sulfito vai se dissolvendo ao longo do tempo e o modo de guardar a solução de estoque em pequenos frascos de mono-doses que são ideais para a guarda e uso de um revelador concentrado e de banho único. Assista então o vídeo para complementar o que você leu até aqui.

A Pipeta

No vídeo eu uso a pipeta de um modo que não é o “oficial” porém, é mais rápido. Aqui vai uma explicação para quem não tiver experiência com pipetas:

  1. A pera de borracha tem 3 válvulas que se abrem quando você as aperta com os dedos. A válvula A serve apenas para expulsar o ar do bulbo. Aperte-a e comprima o bulbo. Ele deve se esvaziar parcialmente. Solte a válvula enquanto o bulbo estiver comprimido.
  2. Com o bulbo deformado, mergulhe a ponta da pipeta no líquido aperte a válvula S. Você verá o líquido subindo pelo tubo. Solte a válvula S para fechá-la quando o líquido tiver chegado na graduação desejada.
  3. Para descarregar o líquido no frasco de 5ml “o certo” é comprimir a válvula E. A válvula E serve também no caso em que você puxou líquido demais e precisa baixar o nível. Ela permite que ar entre no tubo e o líquido escorra. Ao esvaziar ficará um restinho na ponta da pipeta que você poderá expulsar apertando a bolinha ao lado de E. Você pode fazer dessa forma mas o processo é muito lento pois depende apenas da gravidade para baixar o líquido.
  4. O jeito “errado”, porém mais eficiente, é você comprimir a pera e quando esta já estiver forçando as válvulas você libera a válvula S. O ar do interior da pera irá expulsar o líquido na velocidade que você quiser. Depende do quanto você apertar. Este jeito é errado pois se por engano você comprimir a válvula S sem colocar pressão suficiente na pera, esta irá sugar o líquido para dentro dela! Aí você terá que lavar o seu interior sugando água limpa, agitando e expulsando-a várias vezes.
  5. Treine com água antes de fazer com produtos químicos. Uma pipeta é de uma grande ajuda em um laboratório fotográfico e vale muito a penas você ter e saber usar para medir volumes pequenos de soluções.

Características e uso do Parodinal

O Parodinal é um revelador de alta acutância, isto é, se uma passagem entre uma zona muito clara a uma zona muito escura for bem abrupta na imagem gerada pela lente, se for bem nítida, se for como um degrau e sem meios tons, o revelador irá conseguir rendê-la também muito nítida e sem meios tons na passagem. O processo químico de revelação tende a suavizar essas passagens, indo do preto ao branco passando por uma fina faixa cinza. No Parodinal essa faixa cinza é mínima e é isso que significa alta acutância. O resultado é uma imagem com um corte muito pronunciado e muito nítida. É ótimo para render detalhes. Mas é claro que isso depende em primeiro lugar de se a lente está de fato produzindo uma imagem que apresente essas passagens drásticas. Se for uma imagem fora de foco, por exemplo, a acutância não será percebida.

Outra característica é que o Parodinal forma grãos relativamente grandes. Isso depende do filme, da temperatura de revelação e da diluição. Tudo que na revelação torne o processo mais lento, baixas temperaturas e alta diluição, ajuda a minimizar o tamanho do grão. Eu costumo utilizar o Parodinal mais com filmes ISO 100 (Foma100), 125 (FP4) e com placas secas e o grão nunca resulta em algo que incomode em ampliações até 24 x 30 cm mesmo a partir de filme 35mm.  Revelo sempre a 20ºC e na diluição 1:50. Meus tempos estão por volta de 10 min com agitação a cada 30s. Já testei 15 min sem agitação e o resultado foi também muito bom. Com filmes ISO400 o grão já fica mais pronunciado mas creio que ainda não rouba a cena. Olhando a foto ainda vemos a imagem e não o grão. Mas com HP5, por exemplo, tenho preferido usar Pyrocat HD. Mas se você vê no grão uma possibilidade estética, então é possível fazer com que ele apareça bastante usando Parodinal com filmes de ISO maior e concentrações mais elevadas e/ou temperaturas mais altas. Mas, como sempre, essas considerações são apenas pontos de partida para suas próprias experiências. Um revelador caseiro não tem a mesma constância dos reveladores industrializados.

A título de conclusão, acho que posso dizer que o Parodinal é um alento para quem faz fotografia analógica pois dá a certeza de que pelo menos um revelador estará sempre à mão. Em tempos de crescentes restrições ao acesso a reagentes químicos podemos contar que pelo menos o analgésico estará sempre disponível e os outros dois, o sulfito e o hidróxido de sódio, são tão largamente utilizados na indústria e tão banais como reagentes que provavelmente estarão igualmente ao alcance. Não bastasse isso, o revelador em si é muito prático e capaz de produzir ótimos resultados.

 

5 CommentsLeave a comment

  • Muito bom o seu artigo! Uma coisa que me intrigou um pouco foi que o seu Parodinal, após alguns dias, continuou praticamente transparente. Eu já preparei essa fórmula antes e ela ficou rosa em poucas horas, e depois castanha. Pretendo fazer novamente em breve, seguindo seu processo e dicas.

    • Eu acho que a diferença aí é o grau de oxidação. É impossível que nada oxide e ele fique claro para sempre, mas tomando alguns cuidados isso pode ser retardado bastante. É muito importante agitar o mínimo, tentar expulsar o ar com temperatura antes de começar, deixar exposto ao ar o mínimo possível usando um vidro de preparação de tamanho justo, mas penso que o principal, para o longo prazo, são as monodoses que permitem que o vidrinho seja aberto uma única vez na hora de usar. Eu fiquei com o laboratório fechado por quase um ano e só estou recomeçando agora pois mudei de casa. Tenho Parodinal com mais de ano de preparação e que ainda está bem clarinho. Boa sorte aí nos seus experimentos.

      • Olá, este sábado, 28/5/22 fui na galeria 7 de abril, está praticamente impossível encontrar preparados para revelação PB, vou partir para prepará-los, achei esta publicação interessante, perdi os arquivos antigos impressos.
        O revelador se eu guardar à temperatura de 5ºC em frasco ambar terá melhor duração? ou tem alguma recomendação
        Obrigado

        • Oi Carlos, o Parodinal que eu estou usando hoje eu preparei no final de 2020. Os frasquinhos ficaram parados pois eu mudei de casa e fechei o laboratório em 2021. Mas por conta disso acabei testando a shelf life desse revelador. Ele está funcionando super bem depois de quase um ano e meio. Acho que o mais importante são as monodoses que deixam muito pouco ar dentro do frasco e só são abertas quando serão usadas pela primeira e última vez. Talvez a baixa temperatura ajude, mas nunca testei. Normalmente faço 250ml e isso me dá 50 monodoses de 5ml. Entre chapas e rolos acabo gastando isso em 6 a 8 meses.

Deixe um comentário para Paulino Cancel Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.