A decisão

Liliput Camera, 1914

Neste post o foco é a discussão interna que ocorreu na Leitz sobre o lançamento da câmera que viria a se chamar Leica e que mudaria os rumos da fotografia no mundo todo. Ele é largamente baseado em um capítulo do livro 100 Years of Leica Photography, organizado por Hans-Michael Koetzle. Em um capítulo inicial, escrito por Ulf Richter, há uma descrição da reunião na qual o único dono e presidente da Leitz, Ernst Leitz II, daria sua autorização para o projeto que colocaria a empresa no disputado mercado de câmeras fotográficas. O interessante é que ele nos permite compreender os desafios mais importantes que culminaram no lançamento da primeira Leica na feira de Leipzig em 1925. Depois de uma longa gestação que começou em 1912/13, a Leitz não apenas arriscou adentrar em um setor no qual não tinha experiência, mas o fez com um conceito novo que a colocaria à frente dos mais tradicionais líderes desse mercado.

Leitz antes da Leica

A Leitz já era uma reconhecida fabricante de instrumentos ópticos quando a ideia de estender seu portfólio para fotografia foi trazida por um novo funcionário. Sua história começou em 1849 quando Carl Kellner, mecânico e matemático auto-didata, desenvolveu uma nova ocular para microscópios e iniciou uma empresa chamada Optisches Institut. Apenas 6 anos depois ele faleceu a o negócio passou para o gerenciamento de sua viúva. Em 1864 Ernst Leitz I (1843–1920) veio trabalhar na empresa trazendo experiência em mecânica fina que incluía anos de atuação na indústria de relógios na Suiça. Em 1869 ele adquiriu todas as cotas da empresa e mudou seu nome para Leitz.

Microscópio monocular composto Leitz. 1922. Coleção Perea-Borobio – Wikipedia

A Leitz cresceu rapidamente tendo microscópios como seu carro chefe. Em 1880, a empresa atingiu uma produção anual de 500 unidades. Em 1887, chegou ao 10.000º microscópio, quatro anos depois ao 20.000º e, em 1899, o 50.000º foi concluído.

É interessante se notar que além da tecnologia a empresa sabia bem se movimentar na promoção de seus produtos sendo muito ativa no meio acadêmico, onde estavam seus principais clientes. Havia uma política de aproximação com os mais eminentes cientistas da época, por exemplo, o bacteriologista Robert Koch recebeu o 100.000º microscópio da empresa em 1907, Paul Ehrlich, inventor da quimioterapia, recebeu o 150.000º, e o ganhador do Prêmio Nobel Gerhard Domagk, descobridor das sulfonamidas, o 400.000º instrumento Leitz. Esse trabalho com formadores de opinião seria novamente mais tarde um dos pilares da divulgação da Leica.

A situação econômica não era muito favorável desde os anos que antecederam a guerra. Justamente as universidades diminuíram em muito seus orçamentos e tempos difíceis estavam pela frente. Não obstante, a Leitz permaneceu investindo em desenvolvimento e em 1913 lançou o primeiro microscópio binocular. Ao mesmo tempo trataram de diversificar o portfolio e lançaram com muito sucesso projetores que vendiam para escolas. Ernst Leitz morreu em julho de 1920, e a liderança da empresa passou para seu filho, Ernst Leitz II.

Oskar Barnack, ~1914. Fonte: 100 Years of Leica Photography, Koetzle.

Em 1911 haviam trazido da Carl Zeiss, em Jena, um novo funcionário para trabalhar no departamento de desenvolvimento. Era Oskar Barnack, então com 31 anos de idade. Ele tinha como hobby a fotografia e com sua inventividade e conhecimentos em mecânica, cogitava desenvolver uma câmera a partir do zero. Pensou em algo totalmente diferente de tudo que existia. Como vimos nos dois posts anteriores sobre a oferta e o perfil de quem fotografava naquele início de século XX, os profissionais e amadores mais avançados estavam convencidos de que a boa fotografia era mesmo difícil e trabalhosa. Conveniência era coisa para amadores sem ambição e suas câmeras baratas e fotos sofríveis. Oskar Barnack imaginava uma câmera fácil de se usar mas com qualidade para realizar boas fotos em situações bem diversas. A Leitz mostrou-se a firma ideal para ele desenvolver seu projeto. Ironicamente, por não ter tradição em fotografia, não estava presa a nenhum tipo de tecnologia, sistema ou formato para câmeras. O projeto começou como algo pessoal, mas à medida que foi evoluindo recebeu apoio e recursos da empresa e resultou em um negócio milionário e uma marca global de primeira grandeza.

Micro Liliput Camera

A ideia de se usar filme de cinema para uma câmera fotográfica não era nova. A própria Leitz produziu cine-câmeras e Paul Wolff destaca em seu livro “Meine Erfahrungen mit der Leica” que Oscar Barnack havia trabalhado em uma pequena câmera para testar a fotometria a ser ajustada nas câmeras de cinema evitando assim o risco de uma regulagem inadequada no momento das filmagens. Também na Carl Zeiss, em Jena, Barnack conheceu a Minigraph, câmera desenvolvida por Levy Roth. Era uma câmera que fazia negativos 18x24mm. Com a qualidade dos filmes de então este era um formato pequeno demais e não rendia ampliações aceitáveis. Importante lembrar que a referência na época eram cópias por contato que normalmente produzem uma definição impecável se o negativo for bom. Na comparação, é difícil uma ampliação a partir de um negativo tão pequeno competir com uma cópia por contato no tamanho já ampliado.

Câmera Minigraph – Fonte: Coeln Cameras

A aparência da Minigraph é bem de filmadora e podemos adivinhar que o filme corre na vertical. Note que 18×24 é o formato que hoje em fotografia chamamos de meio quadro e em cinema é o quadro inteiro.

Oscar Barnack continuou pensando em uma câmera pequena usando filme de cinema para uso específico em fotografia. Uma primeira grande ideia que teve foi colocar o filme para correr na horizontal e assim dobrar o tamanho do quadro adotando as medidas 24×36 mm, que é até hoje padrão para fotografia com filmes 35mm e tornou-se o full-frame que conhecemos no digital.

 

O padrão que foi criado com a Leica, e seguido por todos os subsequentes fabricantes que adotaram o filme 35mm em fotografia, foi de usar 8 furos para cada foto. Isso dá 38mm como vemos acima. Mas para dar um espaçamento de 2mm entre os fotogramas deixou como 36mm. Com isso a proporção largura x altura ficou exatamente 3:2 que ele achou boa esteticamente. A altura no filme para fotografia é 24mm pois utiliza a banda toda, quando usado no cinema, para a imagem ficam 22mm para imagem e 2mm reservados para gravação do som óptico.

Em 1914 há uma anotação no seu diário “Micro Liliput câmeras, prontas”. Embora o projeto não tenha entrado imediatamente em preparo para lançamento, é interessante notar que a partir dali, várias melhorias foram discutidas com outros engenheiros da Leitz, vários experimentaram a tal Liliput Camera, fizeram sugestões e várias patentes foram registradas. Embora não sentissem ainda que seria o momento, recursos foram alocados para amadurecer o projeto e garantir, através de patentes, que as inovações não seriam copiadas se eventualmente vazadas ou coincidentemente desenvolvidas e registradas por outras empresas. Alguns marcos no desenvolvimento:

  1. 1920 – Max Berek desenhou uma lente especial para a câmera com boa luminosidade e nitidez.
  2. 1920 – Cassete à prova de luz foi desenvolvido para acomodar filme suficiente para 40 fotos.
  3. 1921 – Um telêmetro foi desenvolvido e registrado
  4. 1922 – O obturador de cortina passou a ser armado automaticamente cada vez que se avançava o filme
  5. 1923/24 – O obturador passou a poder ser armado sem necessidade de se tampar a lente (agora as cortinas passavam com uma pequena sobreposição e  portanto sem deixar fresta)

A lente de 50mm

Um ponto muito interessante desse desenvolvimento e que teve impacto por toda história subsequente da fotografia em 35mm, é como que se chegou ao padrão de que a lente normal seria a 50mm. Todos sabem que a diagonal de um retângulo de 24x36mm é 43,3 mm. Esta seria a lente normal para o formato ou, pelo menos, algo muito próximo disso. Mas acontece que, nas discussões entre Oscar Barnack e o opticista que iria desenhar a lente para a Liliput Camera, Max Berek, algumas condições eram mandatórias e a focal de 50mm, como lente padrão, foi a concessão para acomodar estas exigências da melhor forma.

Barnack havia experimentado com a Mikro-Summar 42mm f/4.5, que seria ótima para o formato, mas queria uma lente mais luminosa, porém Berek lhe explicou que com essa distância focal de 42mm o 24x36mm pedia um ângulo de visão de 53º e seria impossível se obter nitidez nos cantos da imagem se fosse forçada uma abertura maior que f/4.5. Mas nitidez no quadro todo era um dos pontos que Barnack fazia questão, assim como de uma lente mais luminosa, pois os filmes eram muito pouco sensíveis nessa época. Berek calculou que com os vidros ópticos disponíveis ele só poderia desenhar uma lente mais luminosa com um ângulo máximo de 48º. Poderiam chegar a 52mm, essa seria a focal que permitira f/3.5, nitidez aceitável em todo quadro. Mas Barnack tinha ainda mais uma condição, que o tubo da lente poderia ser retrátil e entrar totalmente dentro da câmera. Essa era a condição para ser uma pocket-camera, coisa que ele considerava essencial: entrar confortavelmente no bolso do casaco. Ao final, fecharam em 50mm f/3.5 e colapsável. Chamaram a lente de Leitz-Anastigmat.

Uma outra melhora importante introduzida nos primeiros exemplares foi colocar a iris logo atrás do primeiro elemento. Isso corta, logo depois da segunda superfície, boa parte da luz indesejada e evita que ela entre refletindo-se descontroladamente para dentro nos outros elementos. O resultado foi uma melhora considerável no contraste da imagem. Característica muito importante para uma época em que não havia tratamento anti-reflexo. A lente assim desenhada foi a Elmar 50mm f/3.5. É uma lente de 4 elementos em 3 grupos. Pensou-se em Elmax, talvez por Max Berek, esta seria uma lente com 5 elementos, mas ela foi recalculada para 4 e na versão final adotaram o final em R como já havia se tornado um padrão para muitos fabricantes.

A luz entra pelo lado esquerdo neste esquema

Uma curiosidade a respeito desse desenvolvimento é se pensar que se Oscar Barnack, em vez de querer uma lente colapsável e mais luminosa, tivesse escolhido como mandatório que fosse uma lente normal para o formato que ele mesmo criou, o 24×36 mm, talvez as Retinas, Contax, Exaktas e mais tarde Nikon, Canon, talvez tudo que veio depois, teriam como lentes “normais” algo em torno de 43mm em vez de 50mm, a qual hoje chamamos de “normal” mas que não o é de fato.

A essa altura o projeto já parecia bem maduro, crescera o entusiasmo em alguns e outros permaneceram céticos, mas ficava claro que a hora era de decidir: lançar ou não lançar.

Oskar Barnack

Prós e contras

A reunião chave aconteceu em junho de 1924 a pedido de Barnack. Ulf Richter conta que Ernst Leitz ainda não havia formado uma opinião. Na reunião estavam os diretores da área comercial, industrial e de desenvolvimento. Todos haviam experimentado os protótipos e todos tinham uma opinião favorável à pequena câmera. Até mesmo alguns represetantes e distribuidores mais próximos conheciam o projeto e acreditavam no seu potencial.

O representante da Leitz em Berlin, Franz Bergmann, comentou a Enst Leitz, enquando folheava uma revista: “Dê uma olhada nas propagandas. Você acredita que essas moças sorrindo e segurando essas câmeras pretas estão realmente sorrindo? O desenho apenas reflete o sonho do fabricante. A mulher iria gostar de fotografar se eles tivessem uma pequena câmera Barnack como esta. Afinal, ela cabe em qualquer bolsa.” Eu achei esta observação engraçada pois me lembrou imediatamente as mocinhas da Kodak. Como esta abaixo e … realmente, ele tinha razão.

Catálogo da Kodak 1921

Embora as opiniões sobre a câmera fossem favoráveis, existiam desafios internos e a grande dúvida de como o mercado reagiria. A Leitz tinha ótima reputação entre cientistas e pesquisadores, seus projetores também eram conhecidos do público em geral, mas tradição em fotografia propriamente, não tinham nenhuma e o conceito era inteiramente novo.

Leica I ou A, do lançamento, composta por cerca de 200 peças

Ernst Leitz pediu na reunião que August Bauer, diretor industrial, desse seu parecer. Em resumo ele disse que várias operações na montagem da câmera eram muito lentas e que eles precisariam de mais pessoal com outro perfil e treinamento adequado. A câmera, apesar de pequena, era composta por cerca de 200 peças. Disse que apesar de normalmente verticalizarem a produção não poderiam ficar sem fornecedores externos para algumas etapas. Uma coisa curiosa é que ele diz que a cortina e os tirantes são costurados e isso os “engenheiros não podem fazer, isso é uma coisa para mãos de mulher”. Não fica claro se seria uma questão de habilidade ou algum outro motivo. Dá uma série de detalhes técnicos e conclui que um pequeno lote, com bom prazo e um custo elevado , isso eles poderiam fazer. Ainda arremata colocando em questão se o pequeno formato seria aceito. Pondera que no cinema, com as imagens em movimento, as pessoas não percebem problemas como falta de definição e foco, mas acredita que com o negativo pequeno o máximo de ampliação será de um cartão postal e as pessoas podem não gostar disso. Uma observação interessante que ele faz é que com o negativo pequeno o retoque ou alterações ficam impossíveis e isso pode ser outra barreira com profissionais.

A isto Ernst Leitz responde: “August, estes não são os compradores que temos em mente. Não podemos viver deste pequeno grupo e eles não podem viver com uma câmera que é cara e elegante como a nossa. […] Esta câmera será comprada por pessoas que querem um aparelho com elas o tempo todo, de modo que elas possam fotografar o que os seus olhos veem, o que eles quiserem registrar. Eles não querem encomendar ou planejar uma fotografia. Quando a câmera capturar o que eles viram de modo impecável em filme, irão definitivamente notar se é a câmera ou o filme que o fez. Então os fabricantes de filmes terão que, e eles irão, acompanhar. Eles irão perceber. […] As câmeras compactas estão crescendo em demanda. Tenho certeza disso”.

O diretor da divisão óptica, Rudolf Zak, foi mais positivo, mas ponderou que a lente, embora tenha testado muito bem, com excelentes resultados, era muito difícil de montar. Dois raios de curvatura são muito próximos e isso acarreta em um tempo grande para se fazer o centramento e colagem. Disse que teriam que implantar testes durante esses processos para evitar muitas peças rejeitadas depois de prontas. Leitz pergunta a Berek se poderia mudar alguma coisa para facilitar nesse ponto. Berek responde que iria aproveitar um recalculo que já estava em andamento para cuidar disso mas que a resolução precisava ser mantida. Diz que estivera em Dresden e Frankfurt a. M. e viu que os filmes estavam sendo projetados em telas cada vez maiores e então ele tinha certeza que isso poria pressão na indústria de filmes e que eles iriam melhorar. “Nós precisamos de um milhão de pixels claros sobre os 800 mm² do negativo [24×36=864], de forma que se projete uma imagem focada para quando for ampliada em um tamanho adequado para visualização. A lente pode fazer isso, sua resolução está bem acima da do filme. Eu estou certo que os filmes serão melhorados brevemente”.

Em sua intervenção, a última antes de Ernst Leitz dar seu veredito, Oskar Barnack faz um resumo perfeito da razão de ser da Leica, ainda Liliput Camera, naquele momento: “Frequentemente o evento já passou quando o fotógrafo ajustou sua câmera. Ele não pode criar de memória como faz o pintor. Fotografia artística que altera, retoca e embeleza até que apenas sobre aquilo do motivo que o fotógrafo ou seu cliente desejam ver, não explora as possibilidades da tecnologia fotográfica até o fim. Fotografia não é pintura. Há muita gente que apenas quer gravar aquilo que eles estão vendo naquele momento. Isto requer uma câmera que esteja à mão e pronta em um instante. Esta câmera não existe ainda, mas existirá e será esta aqui.” Disse apontando para o protótipo à sua frente.

Mais à frente Barnack fala do público que ele acreditava estar endereçando com sua câmera: “Além do fotógrafo artista [profissional] existem mais a mais amadores – e eu sou apenas mais um deles. Em Berlin há um bom número de clubes para fotógrafos amadores com mais de 400 membros. No momento, em todo império Germânico, mais de 140 clubes com mais de 4000 membros são afiliados à Associação de Fotoclubes Amadores”.

Estes amadores avançados, membros de fotoclubes, como foi exposto no post anterior, eram justamente os que sabiam o que seria uma boa foto, sabiam sobre foco, velocidade e abertura, processavam suas fotos em casa, mas só encontravam no mercado, como vimos no primeiro post, câmeras grandes e desajeitadas se quisessem alguma flexibilidade de recursos. As box câmeras e suas equivalentes na opção folding (dobrável) nem recursos e nem praticidade ofereciam.

Ernst Leitz, como sabemos, decide pelo lançamento: “Quando eu levo tudo em conta, embora ouça alguns poucos argumentos contra produzir esta câmera, vejo que estes argumentos não têm origem na câmera, mas na inadequação do filme e na lealdade dos fotógrafos às grandes e imponentes câmeras. Mas os filmes estão melhorando, pois cinema está ganhando importância. Temos que olhar para frente. Há mais razões a favor do que contra. Fotografia talvez também irá mudar como resultado. Se nós não formos agora – estou convencido – algum outro irá. Não acho que o risco seja tão grande que eu não possa responder por ele. […] Sr. Barnack, por favor coloque um filme na câmera para mim, eu gostaria de experimentá-la. Quero usá-la como um homem comum e ver se tomei a decisão correta.”

Isso foi em junho de 1924. A Leica foi apresentada na feira de Leipzig no ano seguinte e foi um sucesso imediato. É muito interessante este relato levantado por Ulf Richter pois ele mostra o grau de consciência com que a Leica foi concebida e lançada. Barnack poderia estar simplesmente criando uma câmera do jeito que ele pessoalmente gostaria de ter e usar, e de fato estava, mas havia também pleno conhecimento de que a oferta de câmeras na época não correspondia ao que um grupo crescente e abastado de fotógrafos estaria procurando.

Em certo trecho ele comenta sobre a Bobette, da Ernemann (depois Zeiss Ikon), que até era pequena e usava filme de cinema não perfurado, mas tinha os vícios de uma outra concepção da fotografia que já estava desgastada. Ele observa que o avanço do filme era feito girando-se um botão enquanto se olhava o número da próxima fotografia aparecer na janela atrás da câmera. Quem já usou essas câmeras sabe que isso é terrível. A tal janela tem um filtro vermelho e no escuro fica impossível se enxergar o tal número aparecer. Na Leica, a primeira câmera com avanço do filme conjugado com armação do obturador, a mesma operação se faz sempre igual, girando-se um botão até que ele trave.

Esses detalhes que talvez as outras empresas considerariam supérfluos, eram essenciais para a nova fotografia que iria surgir. Com as câmeras oferecidas na década de 1920, o tempo entre decidir fazer uma foto e efetivamente fazer a foto era longo, mas todos achavam isso normal: fotografia era assim.  Antes de sair de casa a pessoa precisava resolver se levaria a câmera ou não, se iria fotografar ou não, pois as câmeras eram grande e pesadas. O design da Leica, seu tamanho reduzido, permitiriam que ela estivesse sempre em um bolso ou bolsa e se alguma situação surgisse inesperadamente o fotógrafo não a perderia. A fotografia aproximou-se muito do simples olhar. A câmera, com o visor direto que a Leica oferece, passou a ser uma extensão do olhar do fotógrafo. Esse era o conceito e a Leica foi um primor de execução. Essa foi a razão do seu sucesso.

 

 

 

 

 

 

 

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