– 245 mm | f/3,6 | 1862 –
Creio que para qualquer fotógrafo ter uma lente do tipo Petzval para retratos é algo de muito especial. Mas ter uma Petzval com esse selo acima, é o máximo. Não que ela seja muito rara e nem muito cara. A Voigtländer fabricou dezenas de milhares de lentes como essa em diversas distâncias focais e elas com frequência aparecem em leilões, lojas e feiras. Mas a casa Voigtländer , fundada em 1756, foi a primeira a fabricar o famoso desenho e de sua história emana toda uma aura, todo um charme que faz com que cada um desses objetos de latão e vidro estimule um verdadeiro fetiche em quem os estudar e possuir.
Em um outro longo artigo eu escrevi sobre a lente de Petzval sob seus aspectos técnicos, novelísticos e sociológicos. Não só ela foi uma novidade, foi o adeus à óptica experimentalista e início da óptica científica, geométrica, baseada nas leis da física, como foi também um caso exemplar de colaboração e conflitos na relação entre academia e indústria. Conflitos que não se resolveram plenamente até hoje. Para ver mais, acesse este link.
Este exemplar foi adquirido em um leilão da Team Brekker. Em sua descrição a distância focal era dada como 238 mm. Mas a medida do mesmo fazendo-se uma regressão linear da magnificação x deslocamento da lente, por este método, resultou em 245 mm com bastante coerência nos dados (ver tabela e gráfico abaixo).
A abertura máxima, calculada como distância focal / pupila de entrada, resultou em f/3,6 (veja método neste link). As primeiras lentes tipo Petzval para retratos, fabricadas pela Voigtländer, tinham f/3.7. Encontrei, em outros fabricantes aberturas máximas de até f/4. Isso é normal e varia mesmo. Importante lembrar que o desenho foi usado de 1840 até o início do século XX e então muitas variações sobre o mesmo conceito foram colocadas no mercado.
Ela veio com a flange original mas nenhum diafragma. Eles seriam do tipo Waterhouse, nome do sujeito que teve a ideia de fazer um rasgo transversal no tubo para inserir uma chapa com o furo no centro e assim cortar os raios mais periféricos. Dá para ver essa abertura na foto acima. Normalmente quem usa uma lente desse tipo nos dias de hoje prefere usar toda a sua abertura. Mas eu vou cortar alguns diafragmas para ver o efeito de fechar dois ou três pontos.
A altura total desta lente, incluindo o parasol, é de 180 mm . O diâmetro dos vidros é de 72 mm.
Abaixo, para dar uma noção de tamanho, veja como ela fica montada em uma Linhof 13×18 cm. Por pouco ela não caberia pois o diâmetro externo da flange é de 114 mm e o lens board da Linhof mede 13o x 130 mm.
Eu a utilizo com formatos 9×12 cm e 4×5″. Poderia também com 13 x 18 cm mas já começa claramente a deteriorar à medida que nos afastamos do centro. Com mais folga na relação círculo de imagem x formato, é possível ajustar o eixo da lente para que passe pelos olhos do retratado (ou outra parte do interesse do fotógrafo). Observei que com lentes com este design, não é possível focar fora do eixo óptico. É diferente de lentes bem corrigidas quando não importa muito onde a área de interesse aparece no despolido, você sempre pode focar ajustando a distância lente x filme. Com a Petzval não é apenas uma questão de distâncias, é uma questão de presença ou não de aberrações. Para ver uma discussão detalhada sobre esse ajuste, acesse este link.
Este retrato foi feito em HP5 9×12 cm, revelado em Pyrocat HD. A ampliação foi feita em 24x3o cm em um Papel FOMA fibra, muito bonito, que tem uma textura e tons quentes.
Este retrato eu fiz usando um diafragma tipo Waterhouse que recortei na medida para dar f/16. Uma abertura pouco usual para uma Petzval mas queria ver como ela se comportaria assim fechada. O filme foi 9×12 cm, Fomapan ASA 100 e o revelador Pyrocat HD. O scan acima foi feito a partir de uma impressão em papel Foma Classic na medida 20 x 30 cm.
Abaixo dois scans realizados diretamente sobre o filme.
Achei muito impressionante a qualidade dos detalhes que a óptica trás. Para uma lente 245 mm f/16 não é uma abertura tão diminuta, do tipo que salvaria qualquer lente. É claro que ópticas modernas oferecem performances ainda melhores, mas é de qualquer modo admirável o nível a que se chegou logo no início da fotografia.
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