As placas secas receberam esse nome em contraposição ao colódio, que era conhecido como placa úmida. No colódio a exposição precisava ser feita antes que este secasse pois se isso acontecesse ele perderia a sensibilidade à luz. O processo dependia portanto de se ter um laboratório junto do estúdio ou alguma solução de laboratório móvel, como era frequentemente o caso.
As placas secas usam, em vez do colódio a gelatina como dispersante dos haletos de prata. Ela cria uma suspensão desses pequenos cristais de cerca de 1 micron e tem a propriedade, fundamental na aplicação fotográfica, de inchar quando molhada permitindo o acesso do agente revelador mesmo aos cristais que se encontrem no interior da gelatina.
Além disso a placa seca é muito mais sensível que as placas úmidas permitindo tempos de exposição bem mais curtos. O processo foi inventado em 1871 por Dr. Richard L Maddox. Inicialmente usava o vidro como suporte, mas também foi utilizado o papel. Por exemplo, George Eastman deu vida a seu famoso slogan “You press the button, we do the rest”, inicialmente com um processo que usava papel como suporte e só no laboratório a gelatina era transferida para vidro para que a impressão fosse feita. O papel, por ser flexível, permitia que rolos para até 100 fotos fossem embarcados em uma câmera que era enviada pelo fotógrafo para o laboratório e voltava com as impressões e um novo rolo para novas imagens.
No final do século XIX, o processo placa seca evoluiu para o filme que conhecemos até hoje. No início era sensível apenas à parte mais energética do espectro luminoso, ao azul e violeta, mas com a adição de corantes e outros sensibilizadores foi possível incluir o verde e mais tarde chegar ao vermelho nas emulsões que chamamos de pan-cromáticas. Nessa fase inicial, antes que o filme virasse assunto praticamente exclusivo de grandes empresas com linhas de produção gigantescas e muito sofisticadas, muitos amadores produziam suas próprias placas e pode-se notar na literatura da época como essa prática era bem difundida.
Hoje existe um bom número de fotógrafos que produzem seus próprios “filmes”, em placas de vidro ou até filmes propriamente ditos, em polyester ou outro material semelhante. Usam o processo artesanal, caseiro, em tudo semelhante ao que se fazia no final do século XIX. Até as fórmulas e utensílios são normalmente pesquisados em livros e artigos da época pois o que se faz na indústria não dá para copiar por falta de reagentes complexos e também de equipamentos.
Logo abaixo você tem a gravação de uma live que eu fiz pensando em quem considera mas ainda hesita em fazer placas secas. Procurei ficar no “tudo que você precisa” e nas etapas mais marcantes do processo. Eu tenho feito e gosto bastante. Uma emulsão básica é muito fácil de fazer e não é difícil de se obter sucesso. O problema é que esse básico significa um equivalente ISO perto de zero. Tão logo alguém obtenha esse sucesso inicial irá querer sofisticar buscando uma fórmula/processo que renda uma placa que permita, pelo menos, algo como ISO 10 ou 20. Nessa busca do santo graal esteja preparado para jogar fora receitas inteiras. A diferença entre uma placa seca maravilhosa e uma imprestável, quando ao preparo, é mínima. Um pouquinho mais ou menos de temperatura, um pouquinho mais ou menos de um reagente, e você é será a pessoa mais feliz do mundo ou a mais miserável. Se você pode lidar com isso, bem vindo(a) ao fascinante mundo das placas secas.