Graphoscope é o nome desse aparelho que torna a experiência de visualizar fotografias mais imersiva e interessante. Aproximando-se bem os olhos da enorme lente de aumento que fica no alto do painel frontal, uma fotografia, mesmo de tamanho bem modesto, enche o nosso campo visual e podemos distinguir muito mais detalhes do que olhando-a diretamente. É uma experiência um pouco indescritível por conta da provavelmente baixa expectativa e do encantador efeito que esse simples recurso produz. É como se penetrássemos no âmbito da imagem.
O Graphoscope foi o acessório ideal para acompanhar a multiplicação de retratos que eram trocados entre parentes e amigos. A partir dos anos 1860 houve uma febre por esses pequenos retratos chamados carte de visite. Eram realizados em estúdios profissionais e comprados em tiragens que podiam chegar a muitas dezenas conforme a popularidade e orçamento do retratado. O daguerreótipo, sendo peça única, não se prestaria a esse fim. O processo de Talbot, por utilizar papel como negativo, não produzia detalhes suficientes para cópias tão pequenas pois a textura do papel se sobrepunha a eles. Foi a introdução do negativo de vidro com processos como o colódio e impressão com albúmen que fizeram desse novo produto da fotografia um enorme sucesso.
Na Cassel’s Cyclopaedia of Photography de 1911 temos o verbete acima. Nele vemos as dimensões oficiais da carte de visite:
- Cartão suporte: 4 1/8 x 2 1/2″ (104 x 64 mm)
- Fotografia para carte de visite Nº1: 3 5/8 x 2 3/8″ (92 x 60 mm)
- Fotografia para carte de visite Nº2: 3 1/2 x 2 1/4″ (89 x 57 mm)
Cerca de 20 anos mais tarde, foi a vez de um formato maior com o cartão medindo, ainda segundo a Cassel’s, 6 5/8 x 4 1/4″ ( 168 x 108 mm) e três opções para o tamanho da foto em si:
- Nº1 5 1/2 x 4″ (138 x 102 mm)
- Nº2 5 3/4 x 4″ (146 x 102 mm)
- Special 6 x 4 1/4″ (152 x 108 mm)
Este era o formato conhecido por carte cabinet. Mas na literatura os dois são normalmente referidos apenas como carte para a carte de visite e cabinet para a carte cabinet. Os retratos cabinet eram ainda realizados principalmente em albúmem, mas começaram a dividir a cena com os primeiros papéis em gelatina de prata. Outra característica desse novo formato é que o verso começou a ser mais utilizado trazendo informações como espaço para dedicatórias além do nome do fotógrafo e os habituais ornamentos.
Acima, no graphoscope, um retrato de corpo inteiro no formato cabinet special. É impressionante a permanência e a qualidade que centenas de milhares destas fotografias mantém até hoje. Principalmente se consideramos que eram comerciais, feitos por estúdios muitas vezes pequenos e sem pretensões museológicas.
Grande parte dos graphoscopes possibilitavam igualmente a observação de cartões e fotografias em três dimensões. Colecionar imagens tridimensionais foi outra prática que ganhou força com as placas de vidro, já nos anos 1860, e se prolongou até a metade do século XX, principalmente monumentos, arquitetura e pontos turísticos, mas também natureza, como paisagens e animais, etnográficas apresentando povos e culturas fora do eixo europeu e ainda as eróticas que hoje animam os leilões de fotografias antigas comandando altos preços. Se é difícil descrever o efeito que causam as carte de visite ou cabinet quando vistas através da lente de aumento, no caso das estereografias, outro nome para as fotos a três dimensões, realmente só vendo para se sentir o impacto que pode causar um recurso tão banal que se resume apenas a mostrar duas fotos ao mesmo tempo.
Quando fechado o graphoscope assume a forma de uma pequena caixa e pode ser facilmente guardado em uma estante ou gaveta. Este é um modelo simples mas existem alguns que com o mesmo princípio apresentam um trabalho muito refinado de marchetaria, gravações douradas ou incrustações de madrepérola.