Ampliador de luz do dia | C. P. Goerz

Por muito tempo a fotografia utilizou negativos que tinham o mesmo tamanho da cópia final, isto é, não eram ampliados e sim copiados por contato. As câmeras eram grandes e pesadas para que a imagem final pudesse ter dimensões razoáveis. Nos anos 1880, com o desenvolvimento da emulsão de gelatina com haletos de prata, muito mais sensível que o colódio, a fotografia sem tripé, com a câmera simplesmente nas mãos do fotógrafo, tornou-se possível. Como consequência, as câmeras tornaram-se menores e muito portáteis. Isso criou a necessidade de ampliadores igualmente práticos e fáceis de usar para que, a partir de um negativo pequeno, fosse possível se restituir um tamanho que fosse agradável de se olhar a uma distância de um braço.

O princípio de todo ampliador fotográfico analógico é a projeção da imagem do negativo sobre o papel fotográfico. Projeção significa que luz precisa atravessar o negativo e sobre isso temos que lembrar que a luz elétrica, embora conhecida desde 1802, só começou a se tornar disponível nas residências no início do século XX. Por esse motivo, muitos ampliadores foram desenvolvidos utilizando a luz do sol que podemos chamar genericamente de luz do dia. Esse é justamente o caso deste Vergroβerung-Aparat (ampliador) da C. P. Goerz de Berlin. Ele foi fabricado no início do século XX para negativos de 4,5 x 6 cm que nele podem ser ampliados até 13 x 18 cm.

O uso da luz do sol para ampliações já era utilizado desde o início da fotografia. Esse era o caso das aplicações profissionais, para a reprodução de obras de arte, documentos ou simplesmente para se ter fotografias ainda maiores que o negativo, que por si só já era grande. Para isso muitos engenhosos aparelhos foram desenvolvidos para direcionar a luz solar para o negativo e deste para o positivo, normalmente em papel.

Este complexo aparelho é apresentado no Traité général de photographie de  D. V. Monckhoven  (7a edição de 1884). Chama-se Agrandisseur Heliostatic, é um ampliador que através de um sistema de engrenagens faz girar um espelho que acompanha a trajetória do sol e ao longo algum tempo razoável para uma impressão, está sempre enviando luz na grande caixa cúbica que se vê ao alto. Dentro dela um segundo espelho reenvia a luz para o negativo, colocado em Y e a imagem deste é projetada pela lente X para dentro de um quarto escuro (não mostrado na ilustração) onde está papel fotográfico que será impresso.

O Goerz, para os mortais

Mas este ampliador da Goerz era para o fotógrafo amador, de finais de semana. Ele pode perfeitamente ser utilizado nos dias atuais. Não há necessidade de se trocar a fonte de luz e nem atualizar o firmware. É muito simples. O negativo, normalmente em placa de vidro, é colocado no alto com a portinhola fechada e travada.

O papel fotográfico é colocado na base larga do ampliador. Isso precisa ser feito em um quarto escuro ou dentro de um saco ou cabana à prova de luz. Existiam à venda no mercado os changing bags, que são próprios para esse fim. Possuem um zíper em um dos lados e duas mangas para se enfiar os braços e poder fazer a troca do papel sem que entre luz. Também não é complicado se fazer um caseiro novo.

Os tamanhos oferecidos são 9 x 12, 10 x 15 e 13 x 18 cm, como se vê na foto acima. Para cada caso é necessário se ajustar a coluna de acordo o número de cada tamanho, seja 1, 2 ou 3.

Antes de fazer a exposição também o foco precisa ser ajustado. Isso se faz subindo ou descendo a lente com a régua no topo da coluna. Basta seguir o mesmo número da ampliação, 1, 2 ou 3.

Dentro da coluna uma lente com abertura fixa é a que irá projetar a imagem, sempre no foco, de acordo com o parâmetros pré-definidos. Para expor, basta abrir e fechar a portinhola pelo tempo correto. Alguém mais preciosista poderia facilmente adaptar filtros multi contraste sobre a lente. Mas quanto ao tempo correto, é preciso se fazer uma estimativa e após 2 ou 3 tentativas alguma coisa já deve ficar pelo menos aceitável.

A Goerz foi uma firma muito importante na história da fotografia. Sua maior realização foi provavelmente a lente Dagor, um verdadeiro marco na história das ópticas. Mas fabricou também câmeras e acessórios, como estes ampliadores. A imagem abaixo é de um catálogo de 1911, fonte Kameras DL. Nas propagandas de época ele era vendido para acompanhar uma simpática câmera chamada Vest-Pocket Tenax, ou Westentaschen-Tenax, no alemão, sendo que ambos significam câmeras de bolso. O formato da Tenax é 4,5 x 6 cm,  que é justamente o formato do porta negativos do ampliador.

O primeiro ampliador produz um tamanho fixo de 10 x 15 cm. Com este formato eram montadas as cartes cabinet, uma fotografia, normalmente em impressão de albumina, colada sobre um suporte de cartão. Foram muito populares no final do século XIX quando eram trocadas entre amigos e familiares, mas eram normalmente feitas em estúdios profissionais. Já no início do século XX, com a disponibilidade de papéis e banhos químicos já preparados à venda, devia ser muito atrativo para um fotógrafo amador poder produzir suas próprias cartes de cabinet usando esses ampliadores.

O segundo ampliador é o que tenho na coleção e que oferece os três formato mencionados acima. O terceiro é uma câmera independente com fole e formato 13 x 18 cm à qual se acopla a própria Tenax e um condensador com uma lamparina a querosene. Eu não compreendo bem como que se fazia o foco nesse caso pois a câmera normalmente não se ajusta a distâncias tão pequenas. Talvez faça parte do acessório algum tubo extensor para aproximação. O texto até menciona a vantagem de que com esse recurso a própria lente da câmera, uma lente de alta qualidade é usada para as ampliações (Goerz Doppel Anastigmat é a Dagor).

No anúncio abaixo (fonte: Pacific Rim) vemos mais detalhes da Tenax e na última linha o Daylight Enlarger. Não está datado este anúncio, mas pelo design deve ser já bem adentro do século XX. Provavelmente o Automatic Enlarger, ampliador automático, oferecido na linha de cima já deve ter alguma fonte de luz própria, talvez elétrica. Mas o ampliador de luz do dia continua lá, continuava a ser útil para as regiões onde essa praticidade ainda não havia chegado ou simplemente por parecer um supérfluo já que a luz do dia podia resolver muito bem a questão.

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