A prática que vou descrever a seguir foi a que me permitiu fazer algumas fotos aproveitáveis de gaivotas no porto de Hamburgo na Alemanha em 2008. Depois, em outras ocasiões, ela me serviu bem e eu perdi menos tempo para ter algum resultado. É o caso, para o meu nível de exigências, dessa foto acima que fiz em Peniche, Portugal, em maio/16. Não é nada sofisticada e não me garantiu nenhum prêmio de fotos naturalistas, mas, se você algum dia estiver com uma oportunidade voando na sua frente, talvez possa aproveitar alguma coisa desse “método”.
Quando estava em Hamburgo eu usava uma Olympus OM1n com uma lente 300 mm f4. Sendo uma máquina totalmente mecânica, o foco era do tipo manual. Precisava de uma velocidade rápida, pelo menos 1/250 para reduzir tremidas, isso me obrigava a usar a lente toda aberta pois o dia estava escuro. É muito difícil focar manualmente uma 300 mm, toda aberta, sobre um ponto que voa. Fiquei tentando acompanhar o movimento dos pássaros que volteavam o cais mas quando muito conseguia ter algum no visor por algum tempo e isso já era um grande feito. Querer, além disso, focar, seria muita pretensão. Então fiz o seguinte raciocínio:
- Queria ter a gaivota preenchendo uma área razoável do quadro da foto. Não poderia ser apenas um pontinho sem detalhe algum.
- Com essa condição a distância do pássaro até a câmera ficava mais ou menos definida dentro de um certo limite
- Foquei então a lente em uma corda enrolada que tinha um tamanho compatível com o de uma gaivota e que preenchia uns 15 a 20% do quadro. Não adiantaria ser muito ambicioso pois elas não se aproximavam mais que isso. Era o que dava para uma 300m com negativo de 35 mm.
- Com esse foco fixo não me preocupei mais com ele. Fiquei a acompanhar o enquadramento das gaivotas que voavam por perto esperando que elas “entrassem” nesse raio de distância. No começo acompanhava apenas um borrão que ia ficando nítido (ou não dependendo da trajetória) e quando ela entrava mesmo no foco eu disparava.
Não vou dizer que meu aproveitamento foi nem de 10% mas pelo menos salvei duas fotos, em um rolo de 36, que me permitiram aprovar o método.
Mundo digital
Já em Peniche, estava com um Canon Rebel 3Ti e uma lente EF 18-135mm f/3.5-5.6. Lembrei de Hamburgo e fiquei feliz de ter agora um auto-foco. Mas não deu muito certo tentar focar em tempo real. Mesmo usando o AF-Servo, que acompanha o objeto focado enquanto você pressiona o botão até a metade, o pássaro era pequeno demais quando estava longe e rápido demais quando estava perto. Fiz então a mesma coisa que fizera com a Olympus mecânica, medi a distância que acreditava ser factível, aquela na qual alguma gaivota com alguma sorte iria se aproximar, desliguei o auto-foco, coloque a exposição em manual e fiquei com o dedo no disparador acompanhado os borrões até que ficassem nítidos. Uma grata surpresa foi que mesmo com o auto-foco desligado, quando a gaivota entrava na distância certa, com botão pressionado até a metade, o aviso de foco dava o seu bip e o led vermelho piscava no visor. Não que dê, pelo menos para o meu reflexo, para pensar em apertar o botão quando o aviso vier, mas, essa resposta do equipamento treinou meu olhar para que eu descobrisse o “timing” em que ela iria piscar de acordo com o movimento dos pássaros que tem até alguma regularidade em sua velocidade e manobras. Quando o click coincidia com o bip, eu já tinha certeza de que, salvo talvez pela pose da ave, eu teria uma foto nítida.
A foto logo abaixo é uma das que fiz em Hamburgo. Tive a sorte de que o click aconteceu bem no momento em que ela tocou a água e isso “explicou” a natureza do fundo escuro que de outra forma seria apenas algo indistinto. A exposição também foi na boa medida pois seu corpo apresenta boa variação tonal dando-lhe forma e volume. Depois de impressa em um papel de gelatina e prata eu fiz uma viragem azul.