Symmar S | Schneider Kreuznach

Symmar S 480 mm f/9.4 – 1986

Embora milhares de lentes diferentes tenham sido desenhadas e fabricadas ao longo da história da fotografia, não deve passar muito de uma dúzia os conceitos que realmente marcaram um salto, um caminho novo e original na produção dessas ópticas. São poucos os casos em que um arranjo de elementos e grupos tenha sido criado. A maioria esmagadora das lentes que conhecemos são cálculos novos a partir de conceitos já estabelecidos por algum que tenha sido pioneiro de fato.

A Symmar, da Schneider Kreuznach, embora seja uma lente de enorme sucesso na fotografia de grande formato no século XX, é descendente direta da Dagor, criada em 1892 por Emil von Hoegh. Na época ele era um jovem matemático com apenas 27 anos e procurava colocação na concorrida indústria óptica alemã. A Dagor, fabricada inicialmente pela Goerz, graças à qual Emil Hoegh foi contratado para chefiar o departamento de desenvolvimento, esta sim foi a primeira lente a utilizar um lay-out que seria seguido por dezenas de outros fabricantes (fonte: Kingslake).

A Dagor é uma anastigmática com 2 grupos de 3 lentes coladas e arranjados simetricamente em relação ao diafragma. A Symmar, lançada na década de 20, utilizava exatamente o mesmo conceito. Podemos imaginar que Symmar vem de symmetric e segue a moda de terminar o nome de lentes com ar ou or. Na década seguinte, redesenhada por Dr. Albrecht Wilhelm Tronnier (1902-1982), perdeu a simetria mas manteve os dois grupos com seis elementos e o nome também. Era uma lente convertible, cada grupo poderia ser utilizado isoladamente, oferecendo assim focais mais longas com sacrifício da abertura máxima. Em conjunto, ofereciam f/6.8 e foram fabricadas com focais de 60 a 480 mm.

Em 1952 houve uma mudança significativa. O lay-out original da Dagor foi deixado para um que seria uma “air-spaced Dagor”. Também um conceito bem antigo conhecido como plasmat, desenvolvido por Schultz e Billerbeck de Postdam, patenteado em 1903 e utilizado em uma lente comercial chamada Euryplan. Abaixo o diagrama dos dois desenhos.

Dagor original – modelo da Symmar até 1952

 

Plasmat, adotado para a Symmar in 1952

Com a mudança para o lay-out plasmat a abertura subiu de f/6.8 para f/5.6. Nova mudança significativa veio em 1972 com a Symmar S. Abriu-se mão da convertibilidade, isto é, as células não poderiam mas ser utilizadas sozinhas, apenas em conjunto. Houve uma melhora na definição e obteve-se uma imagem mais plana. Introduziu-se também o multi-coating , tratamento anti-reflexo com mais de uma camada, como forma de aumentar o contraste por evitar reflexões internas.

Logo em seguida veio a Apo-Symmar, para a qual a Schneider reivindicou uma performance ainda melhor. Mas muitos fotógrafos consideram essa melhora imperceptível. Segundo o Vade Mecum: “Mais tarde a Symmar S abandonou a convertibilidade mas apresentou ainda maior correção e campo da imagem muito mais plano. Isto foi ainda melhorado na Apo-Symmar, mas existe a opinião de que a Symmar S marcou o ponto no qual melhorias seriam menos óbvias que anteriormente”.

 


Sobre a Schneider Kreuznach
Foi fundada em 1913 por  Joseph Schneider com o nome Optische Anstalt Jos. Schneider, na cidade de Bad Kreuznach na Alemanha. Forneceu ópticas para muitas câmeras que foram clássicas na fotografia, como a Rollleiflex, Kodak Retina e Hasselblad.  A marca é muito conhecida por sua extensa e conceituadíssima linha de lentes para grande formato. De sua fundação até o ano 2000 produziu 14.730.000 lentes (fonte: Wikipedia). Hoje ainda é ativa e fornece para diversas marcas de câmeras, celulares e ópticas industriais. Infelizmente retirou de seu site oficial as informações e especificações de suas lentes vintage que eram referência para todos que ainda praticam fotografia analógica.


 

O exemplar deste post é uma Symmar 480 mm f/9.4 – a mais longa focal fabricada pela Schneider para uma Symmar . Existe também uma 480 mm f/8.4. Toda aberta ela tem um ângulo de visão de 43º e um círculo de imagem de 370 mm. Fechada em f/22 ela tem um ângulo de visão de 56º e círculo de imagem de 500 mm. Esses números representam uma queda considerável se comparados com as focais menores, até 360 mm, cujos ângulos de visão chegam a 60º ou 70º, quando totalmente abertas ou em f/22, respectivamente.

Apesar de ser f/9.4, ela é uma lente grande com elemento frontal com 80 mm de diâmetro, aproximadamente. Utiliza um obturador Compur 3 que vai de 1s até 1/200s. As aberturas vão de meio e meio ponto até f/90. O comprimento total é de 128 mm, sendo que 54 mm ficam dentro do fole.

Para dar uma ideia de quanto esta lente pede de extensão do fole. Usando o simulador, veremos que para se fazer um busto (cabeça e ombros com 50 cm de altura) em um filme 8×10 polegadas, a distância da imagem até o ponto nodal de lente tem que ser de 67 cm. Isto é, aproximadamente, o quanto o fole precisa se estender.

Por essa razão eu montei esta Symmar em uma câmera de estúdio que comprei praticamente para ela e para uma Hermagis tipo Petzval. Tem o inconveniente de que em uma câmera de estúdio ela perde mobilidade. Mas é uma lente de 1700 g, não é qualquer field camera que pode lidar com esse peso todo no lens board e ainda com o fole tão esticado. Considerando esses pontos, acho que podemos dizer que não é uma lente para se levar passear. O quadro dessa câmera é de placa inteira, 18 x 24 cm. Não há muito sentido em se usar essa lente para menos que isso. Tenho alguns film holders de madeira, originalmente para placas de vidro, mas com sheaths para que sejam carregados também com filmes.

Abaixo duas páginas de catálogos copiados do Camera Exccentric. O primeiro de 1978 e o segundo de 1986. Os pontos mais em evidência são o multi-coating e a consequente melhora no contraste.

Neste folheto de 1986 há um erro no ângulo de visão da 480 mm. O círculo de imagem está de acordo com a documentação que encontrei da própria Schneider, são 500 mm. Mas basta colocar a distância focal e este círculo de imagem nesta calculadora para ver que o ângulo não pode ser 70º e sim 55º, que é muito próximo dos 56º informados na literatura.

Também achei engraçado que dissessem: “Mais avançado desenho óptico; 6 elementos / 4 grupos”. Bem, mesmo deixando a Dagor de lado, se pensarmos apenas na plasmat Euryplan, o “avançado desenho óptico” data de 1903!

Algumas fotos com esta Symmar S 480mm f/9.4. As imagens são scans de cópias por contato em papel Ilford fibra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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2 CommentsLeave a comment

  • Usei poucas vezes mas os resultados foram bons, melhor que objetivas mais recentes, boa nitidez e o ponto alto o contraste e distorção imperceptível . Em 8×10 f8 ausência de queda de luz nas pontas .
    Contras o receio de usar e o peso . Escolhi com Copal nº3. desistí do compur.
    Obs. Jojoba é um excelente lubrificante para estamparia e usinagem, mas nunca use em obturadors de objetiva, ele oxida, endurece e melhor jogar fora que tentar limpar.

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