– 9 polegadas | f:4 | anterior a 1950 –
Verito é uma lente absolutamente cult e mesmo que você não saiba nada a seu respeito, com certeza já se encantou com alguns retratos famosos que com ela foram feitos e só com ela poderiam ter sido feitos. Foi uma marca da Wollensak Optical Co, Rochester N.Y. USA, uma empresa fundada em 1899 com a intenção inicial de produzir obturadores, mas já em 1902 começou a fabricar lentes. O sucesso foi tanto que esse logo se tornou o negócio principal da empresa por muitas décadas. A maioria das suas lentes eram de concepções comuns, sem grande ousadia, apenas usando desenhos consagrados, desenvolvidos por outras empresas que faziam pesquisa de ponta. Talvez a própria Verito também tenha sido copiada de alguém, mas, de qualquer forma, tornou-se uma das mais celebradas lentes de foco suave, soft focus, para retratos.
Acima temos o esquema da Veritar. Trata-se de uma versão mais nova, mas que seguia o mesmo desenho básico da Verito original. As duas são do tipo 3 elementos em dois grupos e seta indica no diagrama a direção da luz.. Vemos que tinha uma construção muito simplista, até mais reduzida que uma Petzval de 1840, com 4 elementos em 3 grupos, a primeira lente pensada para retratos. É interessante ver a argumentação que encontramos na literatura da Wollensak a favor do foco difuso. Enquanto que a maioria dos fabricantes lutava para ter a lente com a maior definição possível a Verito prometia não chegar lá e esse era seu ponto de diferenciação: “As imagens produzidas pela Verito não são meras reproduções mecânicas mostrando com uma definição agressiva todas as pintas e sardas. Em vez disso, ela corretamente retrata a textura da pele suprimindo detalhes desnecessários”.
As imagens produzidas por lentes de foco difuso ou soft focus não são de forma alguma “fora de foco”. Diferentemente dessas últimas, nelas podemos sim ver detalhes na imagem, mas é como se sobre uma imagem nítida fosse sobreposta uma outra que espalha a luz de cada ponto sobre o seu entorno mais próximo. Como se cada ponto tivesse o seu halo. Isto é devido a uma proposital aberração esférica deixada sem correção. Ela é produzida de forma mais acentuada na periferia da lente e é por isso que ao fechar o diafragma esse efeito de halo vai desaparecendo. As Veritos e algumas de suas variações foram fabricadas pela Wollensak desde os primeiros anos do século XX até a década de 60. Sua época de ouro coincidiu com o auge de Hollywood quando um certo tipo de retratos, evanescentes, das estrelas de cinema andaram muito na moda. Hoje, são ainda muito procuradas por fotógrafos profissionais que buscam esse visual retrô.
Nos primeiros anos das lentes soft focus elas foram muito importantes para os fotógrafos que tentavam estabelecer a fotografia definitivamente como forma de arte com o movimento pictorialista. Isso foi logo na virada para o século XX e foi simultâneo na Europa e Estados Unidos. Para saber um pouco mais sobre essa primeira entrada das ópticas soft focus veja este artigo sobre a Eidoscope, uma lente fabricada inicialmente pela Hermagis, depois SOM Berthiot e contemporânea da Verito.
A seguir um exemplo tirado de um livro americano de 1947 chamado Professional Portrait Lightings. Trata-se de um manual de iluminação para o qual vários fotógrafos dos Estados Unidos foram convidados a colaborar dividindo seus segredos e técnicas com os leitores. Vários dos retratos foram realizados com lentes soft focus e as Veritos estão, é claro, orgulhosamente representadas.
A seguir a descrição feita pelo fotógrafo na qual ele especifica o esquema que usou para iluminar misturando três fontes. A lente foi Verito cobrindo 8 x 10 polegadas. Um respeitável negativo de 20 x 25 cm. Abertura f 6, portanto ainda não é o efeito máximo de difusão, e o tempo de exposição 1/25 segundos, coisa que por si só já pode produzir algumas tremidas se o modelo não estiver bem parado.
Algumas páginas de catálogos e propaganda de Wollensak. É interessante notar como eles se referem ao fotógrafo como um artista, pictorialista, e ainda adicionam a paleta de um pintor para reforçar o conceito.
A Verito apresentada neste post tem um obturador de estúdio no qual as lâminas funcionam também no papel de iris, abrindo de acordo com a abertura escolhida: de f4 a f32. A fita adesiva preta foi colocada cobrindo a abertura para o obturador de gaveta (Waterhouse stops), mencionado no catálogo de 1903, logo acima, para evitar a entrada de poeira no interior da lente. O efeito de foco difuso é máximo em f4. A partir de f11 a lente produz uma imagem mais regular. Não há sincronismo de flash. No tempo das Veritos, o normal em retratos de estúdio era o uso de lâmpadas contínuas, tipo photofood e também fluorescentes. Para acionar é preciso um cabo disparador pois não há alavanca como normalmente os obturadores de estúdio apresentam.
Os retratos abaixo foram tomados com a Verito das fotos acima. No primeiro deles eu usei f8 e então o efeito de foco difuso ficou mais discreto mas ainda muito presente. A imagem é muito diferente do que seria com uma lente desenhada para ser sharp. A outra foto foi realizada com f4/5.6 e o efeito é bem mais prominente.
Muito bom! Este foco suave sempre me encantou…
Estou fazendo umas tomadas com a minha Imagon 200mm, vamos ver como ficam!!
Gosto muito dessa Verito. Em especial, gosto de dar esse efeito Hollywoodiano de colocar uma luz por trás ou lateral para dar um brilho nos cabelos. Quando isso acontece ela cria um halo bem bonito.
Ótimo artigo Wagner! A iluminação clássica em estúdio é algo que me atrai. Muito bacana o efeito da lente na sua abertura máxima.