Esta é a miniatura da versão Pacemaker Crown Graphic 4×5. A Graflex fabricou este modelo entre 1947 e 1973. Seu conceito é de uma câmera que atenda tanto para o trabalho com tripé, usando-se o vidro despolido e movimentos da lente em relação ao filme, como também para instantâneos com a câmera na mão. Muitos outros fabricantes ofereceram modelos assim e provavelmente o melhor exemplo seria a Linhof 6×9. Pertencem todos à uma época pré especialização em que as câmeras queriam ser e fazer de tudo. A ideia de que com essa câmera “eu posso aceitar qualquer trabalho”, deve ter sido o atrativo para os fotógrafos daquela época.
As concessões para tal flexibilidade não são poucas. No final das contas, seja qual for o tipo de fotografia, temos sempre a sensação de que estamos carregando coisas inúteis e lamentando o que poderia ser melhor especificamente naquilo que precisamos no momento. Por exemplo, a lente pode ser movimentada na vertical, horizontal e inclinar-se para trás, mas o filme é fixo e nem mesmo gira para portrait ou landscape. Outro caso é a troca de lentes. É possível se montar várias lentes, porém, o rangefinder não tem a facilidade das Linhofs para se acomodar a diferentes distâncias focais. Seria preciso se trocar uma lâmina, cam no inglês, que tem a curvatura correta para cada distância focal. É o perfil dessa curva que comunica ao rangefinder a posição da lente e permite avaliar o foco fazendo coincidir duas imagens criadas por telemetria (são as duas janelas redondas na lateral esquerda da câmera na foto acima). Existem aficionados que se divertem fazendo essas adaptações, mas aí entra mais um gosto pelo hobby, pela gambiarra, do que pelo puro desejo de fazer fotografia. Se quiser fazer o seu, veja como neste link.
Então, na prática, para se usar outras lentes que não a original, a alternativa será se usar tripé e vidro despolido. Neste exemplar a lente padrão é uma Graflex Optar 1:4.5 / 101 mm, design tipo da Tessar. Ektars, da Kodak, também tipo Tessar, são muito comuns como lentes padrão. Acima estão duas lentes de Linhof montadas em lens boards para a Crown Grahic 23. A da direita é uma Tele-Xenar 1:5.5 /180 mm, muito fácil de usar, e a da esquerda é uma Super Angulon da Schneider, 1:5.6 / 65 mm que já fica um pouco apertada pois o lens board fica entre o trilho externo e o interno. Ela permitiria muitos movimentos pois cobre até 4×5″, mas isso fica praticamente impossível pois a própria estrutura da câmera impede esses movimentos.
No que diz respeito ao tamanho, ela é razoavelmente menor que a versão 4×5″, mas mesmo fechada, comparada com uma 35 mm, como a Leica IIIf acima, ainda é uma câmera bem grande. Comparada com outras folding câmeras de médio formato, como as Super Ikontas, ou a mais antiga Maximar, ela é algo como 1,5 vezes maior.
Chapas, rolos e vidros
O ponto onde as Graflex tornam-se muito interessantes é na possibilidade de se comutar entre filmes em chapas, filme 120 em rolo e até placa seca feita em vidros comuns.
Acima estão dois film holders para as Graflex 23. Sendo 23 a forma compacta de se escrever 2¼ x 3¼ polegadas. Isso dá 57 x 82 mm aproximadamente.
Outra maneira interessante de se usar filmes em chapas é com um Grafmatic back, ao alto na foto acima. Com ele é possível se carregar até 6 chapas que são trocadas com dois movimentos como que de abrir e fechar uma gaveta, sem retirar o mesmo da câmera.
Ainda na foto acima, vemos um adaptador para filmes 120 que permite 8 fotos no formato 57 x 82 mm. Mas para utilização deste adaptador a câmera precisa ter um Graflok back como é mostrado na foto abaixo.
O outro tipo de traseira, chamada spring back, (spring é mola em inglês) não permite a retirada do vidro despolido como se vê na foto acima. O vidro apenas recua para inserção dos film holders comuns ou Grafmatics ou ainda film pack adapters (ver abaixo), mas como o adaptador de filme 120 é grande, é preciso um vidro despolido que possa ser removido inteiramente e esse é o Graflok back. É possível se adaptar um spring back para aceitar adaptadores de filmes 120, veja ideias neste link.
Ainda muito interessante é se usar um film pack adapter, facilmente encontrado em sites de leilão, para receber chapas de vidro sensibilizadas com gelatina de prata. A adaptação consiste apenas em se colar um pequeno pedaço de madeira coberto com uma fita de EVA, para vedar a luz (lado direito na foto acima). As molas na tampa devem ser entortadas para comprimir a chapa de vidro contra a moldura e assim o film holder para chapas de vidro estará pronto. Pode-se usar chapas comuns de 2 mm, como a que é mostrada na foto acima. Isso é bom pois elas são mais fáceis de se encontrar, e mais baratas do que os vidros de 1 mm normalmente utilizados nos plate holders originais.
Flash Bulbs
Creio que nenhuma outra câmera na história da fotografia é tão associada ao uso de flash bulbs quanto as da Graflex. É muito icônica a imagem do fotógrafo com uma Speed ou Crown Graphic e um grande refletor para flashbulbs. Veja algumas delas na página da Crown Graphic 45 . Ainda é possível se encontrar estoques remanescentes de flashbulbs dando-se uma busca na internet. Os preços variam muito e é bom pesquisar e aguardar boas oportunidades.
O flashgun, desafortunadamente, foi escolhido para se fazer o sabre de luz, lightsaber, do Guerra nas Estrelas e a comunidade dos fans da saga cinematográfica trataram de sequestrar os flashes tirando-os da fotografia.
Mas se você é o feliz proprietário de um flashgun Graflex, acima estão algumas coisas indispensáveis ou pelo menos muito úteis para seu uso. À esquerda é um soquete com uma lâmpada comum adaptada. Isto é útil pois os flashbulbs só funcionam uma única vez e passam do status “novos” imediatamente para “queimados”. Dessa forma, se você precisar testar seu equipamento e ter certeza de que há um pulso elétrico sendo enviado para o contato da lâmpada, este testador lhe será muito útil dispensando a queima de flashbulbs de verdade apenas para verificar o circuito. Ele irá cintilar bem fraquinho e rápidamente quando o obturador for acionado, mas lhe dará a certeza de que está passando corrente.
As lâmpadas são basicamente a Nº5 e Nº11 (esquerda e direita). Note que a Nº5 precisa de um adaptador pois seu soquete é menor e de baioneta. Apesar do tamanho, a Nº11 não é muito mais potente que a Nº5. Ambas dispensam uma enorme quantidade de luz. Para fotos em interior acostume-se a usar f16 e f22. Mas vale lembrar também que, como a duração do flash é relativamente longa, é possível se controlar a luz pela velocidade do obturador. Com 1/5o você estará aproveitando toda a energia. Com 1/100 ou 1/200 já estará cortando quando o flash ainda brilha. Utilize com essas lâmpadas o sincronismo em M. O sincronismo X, era e continua sendo para flashes eletrônicos que tem duração da ordem de milésimos de segundo.
Muito importante é ter o cabo original pois os contatos nas lentes para Graflex não são do tipo hoje standard. No flashgun trata-se simplemente de um plug tipo americano com dois contatos chatos (ver foto). Na lente é um padrão cujo nome eu desconheço mas está visível na foto acima. Na foto da frente da câmera são aqueles dois pinos que saem radialmente onde seriam as 4 horas se a lente fosse um relógio analógico.
O que os flashbulbs contém é basicamente uma malha de magnésio e alguns aditivos para a sua instantânea oxidação, que é quando emitem luz e calor. Magnésio ainda pode ser usado como pó solto se misturado com um oxidante. Veja esse link para saber como. É muito fácil se produzir queimaduras graves com flash bulbs. É bom guardar uma distância de pelo menos 1 metro de qualquer coisa sensível ou inflamável. Eles são revestidos de uma camada plástica para evitar o seu estilhaçamento e levam alguns segundos para que possam ser tocados com as mão logo após sua queima. Para mais informações sobre flashbulbs visite a página flashbulbs, lâmpadas feitas para queimar
Quanto aos flashbulbs em si, posto que são todos muito antigos, é possível testá-los também sem produzir a sua queima. Isso é possível com um multímetro no modo de medir resistência elétrica. O multímetro irá colocar uma tensão muito baixa, suficiente para medir a resistência, que deve dar zero, mas insuficiente para iniciar a ignição do flash bulb. Se der como um circuito aberto, entre os dois pólos da lâmpada, quer dizer que mesmo com a faísca ela não irá estourar pois não passará corrente. Mas se você não entendeu completamente essa explicação, é melhor não tentar nada pois queimar um flash bulb com ele na mão é muito perigoso e é melhor não arriscar.
Outra coisa interessante sobre os flashgun da Graflex é que em caso de falta de baterias eles podem ser ligados diretamente na tomada 110V mesmo. Podem ainda acionar a câmera, em vez do habitual sentido inverso. Para isso, é preciso ter um solenóide no lens board (veja o pequeno cilindro com uma espécie de gatilho um pouco acima da lente). Ele fica ligado no flash gun e quando o fotógrafo dispara diretamente no botão próprio flash , um pulso elétrico é enviado para o solenóide que aciona o obturador. Isso pode ser muito útil quando o flash está fora da câmera pois esse cabo pode ser longo.
Uma ótima companheira
Mesmo com as ressalvas feitas no início, a Pacemaker Crown Graphic não deixa de ser uma câmera muito agradável de se usar. Se para o profissional, que irá geralmente se especializar em um ou outro tipo de fotografia, a versatilidade da Crown Graphic acaba sendo um limitante, por agregar características que podem não ter uso e ficar aquém em outras mais críticas nas quais ela não vai longe, para o amador, justamente essa generalidade faz dela uma companheira ideal. Além disso, pesa muito toda a sua história e toda sua aura de objeto cult. Ela é a irmanzinha caçula de um verdadeiro clássico da história das câmeras fotográficas e é impossível portá-la sem ter essa sensação de fazer parte de uma longa tradição no fazer imagens.
Existe um site chamado graflex.org que é um grande repositório de informações sobre a produção da Graflex ao longo de sua história. Muito interessante também são os artigos escritos de forma apaixonada pela comunidade de seus fãs.
Sobre a Pacemaker Crown Graphic 45, a verdadeira porta estandarte da marca, visite a página Pacemaker Crown Graphic 45.
Possuo esta câmera desde 1996 e já a utilizei muito. Abaixo algumas fotos realizadas com ela.
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