Protar V – Anastigmat 1:18 | Carl Zeiss Jena

Ano de produção: f=18 cm, 1927 – f=14 cm, 1926

Esta é uma lente que nos dias de hoje, por seu jeito e tamanho, não parece prometer muito. Passaria por uma lente de ampliador ou algo assim. Mas na verdade é uma poderosa grande-angular.

A lente considerada a primeira anastigmática foi a Concentric de Ross, na Inglaterra. Logo a seguir, as primeiras anastigmáticas da Zeiss foram criadas por Paul Rudolph em 1890. Elas receberam esse nome anastigmat no alemão, a mesma grafia no inglês e anastigmatique no francês, como nome comercial. A origem é grega, onde stigma significa ponto. Anastigmática é uma dupla negação, é como não-não-ponto. O motivo é que as lentes até então davam imagens de pontos que na verdade eram discos, eram não-pontos. Nesse sentido as novas lentes, possíveis pela invenção de um novo vidro crown com bário, seriam enfim as lentes não-não-ponto. Um esquema sobre o que é exatamente o astigmatismo pode ser visto na página da Protar VIIa.

Por ser um nome de categoria, um nome da óptica, logo outros fabricantes o adotaram e a Carl Zeiss decidiu mudar para Protar, por ser um nome que poderia registrar como seu. Lançou assim uma série de Protares para várias aplicações com aberturas de f/4,5 para retratos até f/18, caso dessa Protar V, para arquitetura, interiores e reprodução. As Protares de abertura maior foram logo substituídas pela Tessar e Unar, que eram mais simples de fabricar e produziam ótimos resultados a um custo bem menor. A Protar V continuou nos catálogos até a década de 30 (Kingslake).

A recepção do mercado às novas lentes foi tão boa que a Carl Zeiss licenciou vários outros fabricantes (lista abaixo) para produzi-las. Em 1900 declarou que mais de 100.ooo exemplares já haviam sido fabricados.

Bausch & Lomb, Rochester, New York
Krauss, Paris, França
Ross, London, Inglaterra
Fritsch (anteriormente Prokesch), Viena, Austria
Koristka, Milão, Itália
Suter, Basiléia, Suiça

Outros fabricantes, aproveitando também os novos vidros, lançaram suas próprias anastigmaticas, como Voigtlander que produziu a Collinear ou a Goerz com sua famosíssima Dagor.

Uma característica da Protar V, muito importante e comentada por Eder em seu Ausführliches Handbuch der Photographie de 1899, é que mesmo com a abertura 1:18 a Protar V produz um círculo de imagem com uniformidade na iluminação por toda sua área. É muito comum que grande-angulares tenham problema de fall-off, ou seja, que a exposição nas bordas seja muito inferior à do centro. Para contornar este problema precisam ser fechadas de alguns pontos ultrapassando muitas vezes o aparentemente limitante 1:18. A Protar V, ainda que começando com uma abertura já um pouco escura de 1:18, não oferece esse problema e pode-se fotografar com ela toda aberta.

Ausführliches Handbuch der Photographie – 1899 – Josef Maria Eder

Ela é constituída por dois dubletos colados e por esse motivo, apesar de não ter o anti-reflexo, não sofre muito com reflexões indesejadas e oferece um contraste plenamente satisfatório. Outro ponto interessante para uma lente que pode ter algo na casa dos 100 anos é que é ela é muito fácil de limpar pois desmonta-se completamente por meio de roscas. Mas no geral, quem tinha uma lente dessas já era provavelmente um profissional e as que eu já vi estavam todas em boas condições de conservação.

As aberturas são 1:18, 25, 36 e 50. A ideia por trás desses números não muito familiares é que, sempre seguindo a fórmula/conceito de abertura como distância focal/ pupila de entrada, a partir do 1:18, os valores seguintes são 18 x √2, para garantir que a cada ponto a exposição seja a metade da anterior. Para efeito de fotometria é perfeitamente válido você interpolar visualmente com a escala dos números habituais f/ 16 , 22, 32, 45, 64.

Protar V 14cm instalada em uma Thornton Pickard Royal Ruby 18 x 24 cm

Para montar a Protar V de 14 cm em uma câmera 18×24 cm achei interessante fazer um recessed lens board. Para tanto utilizei uma peça feita para os ampliadores Durst cujo papel é justamente jogar a lente mais para dentro do fole. Esse é um recurso para focais muito curtas quando mesmo recolhendo todo o fole a lente ainda está longe do filme no ampliador. Nessa Thornton Pickard a distância focal de 14 cm estaria perto do limite de contração do fole. Mas o recessed lens board ajuda a garantir alguns movimentos para a lente. Já que ela é tão interessante para cenas urbanas e arquitetura, essa é uma característica bem desejável.

Do catálogo de objetivas da Carl Zeiss – 1910

Essa é uma página do catálogo da Zeiss para o mercado Francês onde podemos ver todas as Protar V em suas dimensões críticas. Na tabela é indicado o que eles consideram “formato normal”, mas a Protar V de 14 cm, no texto, é indicada como capaz de fazer 18×24. Na tabela vemos que seu círculo de imagem é de 36 cm. Em 18×24 cm isso resulta em 81º de ângulo de visão horizontal e 65º de ângulo de visão vertical, em orientação paisagem.

 

Os 36 cm de círculo de imagem deixam margem para movimentar a lente e baixar a linha do horizonte até 1/4 da fotografia, na orientação paisagem, ou até 1/6 do quadro, no caso da orientação retrato. Essa simulação pode ser feita na página Elevação da lente e a Linha do horizonte. Mas é preciso ter uma câmera que permita elevação de 44 e 36 mm respectivamente. Inclinar o filme e a lente para trás, também produz o mesmo efeito.

Fotos de interior dão uma incrível definição mesmo em distâncias mais curtas. No negativo original é possível se ler os nomes dos livros mesmo na estande lá do fundo e da frente também. A abertura foi de f/36 e a exposição de 2 minutos com a sala iluminada apenas com essas luzes de teto. O filme foi um Fomapan 100 18×24 cm.

Nesta foto do meu laboratório o filme e plano da lente estavam perfeitamente na vertical, mas o eixo da lente não estava perpendicular à parede do fundo. Eu olhava a sala um pouco enviesado. Isso acarreta uma inclinação forte da aresta entre teto e parede do fundo e, no primeiro plano, a bancada úmida parece subir em direção ao centro da foto. Isso pode ser melhorado com movimentos do plano do filme e/ou lente. Mas a Thornton Pickard Royal Ruby não oferece esses movimentos.

Nesta foto externa usei também a Thornton Pickcard 18×24 cm. Com um front raise a linha do horizonte baixou para mais ou menos 1/3 da foto. A lente permitiria baixar ainda mais, mas a câmera não permitia. A imagem acima corresponde ao negativo inteiro, só para mostrar como prédio muito alto pode ser enquadrado a uma distância relativamente pequena. Normalmente,  fotos com ângulos de visão tão grande são recortadas para compor melhor, para tirar o excesso de chão no primeiro plano, por exemplo.

 

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